SÃO PAULO - Aos dois anos e quatro meses, Bruninho, filho de Eliza Samudio, vive com a avó materna, Sônia de Fátima Moura, de 46 anos, num sítio próximo a Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Há três meses, Sônia tem a guarda definitiva do menino. Na casa, há fotos de Eliza em todos os cômodos. A avó faz questão de manter viva a memória de Eliza, que para Bruninho “está com o papai do céu, dormindo”.
– Não falo com Bruninho sobre o pai. Falo muito sobre a mãe. Há várias fotos dela em toda a casa. Apesar de me chamar de mãe, ele sabe que sou sua avó. Expliquei que a mãe está com o papai do céu, dormindo, que virou uma estrelinha. Ele e eu estamos tendo acompanhamento psicológico. Não vou esconder nada do meu neto e vai chegar uma hora em que terei de contar tudo o que aconteceu. Mas preciso encontrar uma maneira de explicar, contar a verdade, sem lhe causar mais traumas – disse Sônia em entrevista por telefone, intermediada por sua atual advogada, Maria Lúcia Borges Gomes, e pela produtora Pródigo, que a entrevistou em outubro do ano passado para um documentário sobre o crime.
Dois anos depois do desaparecimento e morte da modelo Eliza Samudio, as diferentes versões do crime serão reconstituídas no episódio da série “Até que a morte nos separe”, que vai ao ar na próxima terça-feira, 19 de junho, às 23 horas no canal pago A&E. Também serão exibidos depoimentos do ex-goleiro do Flamengo Bruno Fernandes, acusado de sequestro e cárcere privado, homicídio triplamente qualificado e ocultação do cadáver da ex-amante, Eliza.
– Foi muito difícil tocar na ferida. Mas falar foi uma maneira de demonstrar à sociedade a necessidade de fazer justiça. Aceitei dar o depoimento porque é uma maneira de pressionar os envolvidos a falar, a contar a verdade – explica Sônia, que afirma criar o neto sozinha, contando com a ajuda de familiares.
Apesar de ter se recusado a ceder material para o exame de DNA, Bruno Fernandes pediu no mês passado que seus advogados entrassem na Justiça com um pedido de reconhecimento de paternidade da criança. Sônia diz que ela e sua advogada nunca foram procuradas pelos advogados do goleiro para tratar da questão.
– O reconhecimento da paternidade não muda nada. Foi o desejo da minha filha desde o início – lembra Sônia, com a voz embargada, antes de dizer que planeja, por recomendação de sua advogada, reivindicar na Justiça uma pensão alimentícia para o neto: – É um direito do meu neto e a ação está nas mãos da minha advogada. Vou abrir uma conta particular para ele, para que no futuro ele possa pagar sua faculdade, um curso. Não quero esse dinheiro.
O depoimento de Sônia ao documentário durou quase quatro horas. Ela se emocionou em diversos momentos. Já o depoimento de Bruno foi curto e ele alegou ser inocente.
– Assim como a Justiça, no episódio, partimos do princípio de que Eliza está morta. Mas não há pré-julgamento. Ao contrário. Tanto a versão da polícia e da acusação quanto a versão da defesa são apresentadas. Também balanceamos os depoimentos tentando dar voz a todos os envolvidos, seus familiares e especialistas – explicou Giuliano Cedroni, diretor de conteúdo e criador do formato da série, explicando que a maior dificuldade no episódio que trata do caso Bruno e Eliza Samudio foram as inúmeras mudanças de advogados do réu e, por consequência, as diferentes versões apresentadas pela defesa.
O goleiro Bruno está preso há quase dois anos na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Não há previsão para a data de seu julgamento. No final de maio, a Justiça de Minas Gerais concedeu liberdade condicional ao goleiro. O benefício diz respeito ao processo por cárcere privado e lesão corporal de Eliza Samudio, pelo qual ele foi condenado a quatro anos e seis meses de prisão. Para deixar a prisão, Bruno aguarda a decisão do Supremo Tribunal Federal a seu pedido de habeas corpus relativo às acusações de desaparecimento e morte da ex-amante.
– Me sinto indignada (com a possibilidade de Bruno ser solto e seu desejo de ser goleiro da seleção brasileira). Gostaria que a Justiça determinasse que ele continue preso para refletir e perceber o grande mal que ele fez a mim e a seu filho – afirmou Sônia, dizendo ter esperança de que o corpo da filha seja encontrado.
Mãe e filha não se viam há cerca de cinco anos, quando Eliza deixou a casa da família em Foz do Iguaçu para viver em São Paulo. Sônia foi pega de surpresa com a notícia do desaparecimento de Eliza.
– Eliza foi uma criança dócil, sociável. Quando tinha 12 ou 13 anos, ela dizia que não queria ter filhos. Eu falava que com o tempo ela mudaria de ideia e ela respondia: “O dia em que tiver um filho meu, mato e morro por ele. Jamais vou abandoná-lo”. E foi o que aconteceu.
Leia em http://oglobo.globo.com/revista-da-tv/serie-ate-que-morte-nos-separe-tera-episodio-sobre-morte-desaparecimento-de-eliza-samudio-5203767
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Obs: tentaram falar com a Eliza, ela não foi encontrada para comentar o fato...