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Protestos devem resultar em mudança radical no modo de fazer política


Especialistas avaliam que o valor da passagem foi o estopim dos protestos, que agora representam uma luta maior contra o modelo político

Apesar de reivindicações heterogêneas, os protestos ocorridos na segunda-feira em várias cidades brasileiras deram alguns recados claros à classe política e ao poder público, na avaliação  de cientistas políticos. Para o professor da pós-graduação em política social da Universidade de Brasília (UnB) Vicente Faleiros, se é verdade que o "gigante acordou", como bradam os manifestantes em redes sociais e com cartazes durante as manifestações, ele não deve se calar até que o "modo de fazer política no Brasil" passe por mudanças radicais.

"O momento da revolta é o de se repensar não apenas em aspectos pontuais, mas na maneira de fazer política. Com essas manifestações, colocou-se em questão não apenas o valor da passagem, mas a maneira como está organizada a representatividade no país. É preciso repensar e modificar a relação da política com o povo e com o mercado", disse.

Segundo o cientista político da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Ricardo Ismael, ainda é cedo para avaliar os desdobramentos políticos dos atos, mas ele concorda que eles evidenciam o desejo de mudanças no rumo da política nacional, "com um sistema político-partidário que consiga reagir de forma mais atenta às demandas sociais".

Para Faleiros, a população está se conscientizando sobre a necessidade do fim do que classifica de 'fulanização da política'. "No Brasil temos o costume de dizer que o ´fulano´ é bom, acreditando que uma personalidade será o salvador da pátria. Enquanto isso, persistem os currais eleitorais, a prática do clientelismo e do apadrinhamento. Por isso, nossa luta tem que ser pela reorganização da política e das relações de poder", acrescenta.

Ao ressaltar que o Brasil vive uma crise de representatividade, na medida em que a classe política, independentemente de partidos ou de níveis de poder, vem perdendo a credibilidade da população, o professor da UnB defende uma reforma que garanta uma democracia mais participativa do que representativa, capaz de aproximar os agentes públicos das demandas da população, em uma relação orgânica e que atenda aos interesses como um todo e não fragmentados, setorializados.

Para especialista, tarifa do ônibus foi a 'faísca' dos protestos

De acordo com Ricardo Ismael, os pontos de convergência em meio a vozes dissonantes estão a questão do transporte público nas regiões metropolitanas, apontado como estopim das mobilizações, a defesa do direito de protestar e a reivindicação por aumento dos investimentos sociais.

"A faísca dos protestos não pode ser esquecida: a população não quer o aumento das passagens para um meio de transporte com tarifas caras, qualidade insuficiente e que leva muito tempo para levar e trazer as pessoas, os trabalhadores. Este é um problema real e objetivo e as prefeituras têm que dar mais atenção a ele", disse, acrescentando que a repressão policial na semana passada incentivou pessoas que, até então, não estavam integradas à manifestação irem às ruas.

Embora as prefeituras sejam responsáveis por autorizar o reajuste das tarifas de ônibus, o especialista avalia que os movimentos têm reivindicações também para outras esferas de governo. "As ruas estão dizendo aos três níveis federativos que os governos não devem fazer restrições orçamentárias, como ajuste fiscal e superávit, em detrimento dos investimentos sociais, como em educação e saúde", disse.

Cenas de guerra nos protestos em SP

A cidade de São Paulo enfrenta protestos contra o aumento na tarifa do transporte público desde o dia 6 de junho. Manifestantes e policiais entraram em confronto em diferentes ocasiões e ruas do centro se transformaram em cenários de guerra. Enquanto policiais usavam bombas e tiros de bala de borracha, manifestantes respondiam com pedras e rojões.

Durante os atos, portas de agências bancárias e estabelecimentos comerciais foram quebrados, ônibus, muros e monumentos pichados e lixeiras incendiadas. Os manifestantes alegam que reagem à repressão opressiva da polícia, que age de maneira truculenta para tentar conter ou dispersar os protestos.

Segundo a administração pública, em quatro dias de manifestações mais de 250 pessoas foram presas, muitas sob acusação de depredação de patrimônio público e formação de quadrilha. No dia 13 de junho, bombas de gás lacrimogêneo lançadas pela Polícia Militar na rua da Consolação deram início a uma sequência de atos violentos por parte das forças de segurança, que se espalharam pelo centro.

​O cenário foi de caos: manifestantes e pessoas pegas de surpresa pelo protesto correndo para todos os lados tentando se proteger; motoristas e passageiros de ônibus inalando gás de pimenta sem ter como fugir em meio ao trânsito; e vários jornalistas, que cobriam o protesto, detidos, ameaçados ou agredidos.

No dia seguinte ao protesto marcado pela violência, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) declarou que via "ações coordenadas" oportunistas no movimento, reiterou "a defesa do direito de ir e vir" da população, mas garantiu que não permitirá que os manifestantes prejudiquem a circulação de veículos e pessoas. No mesmo dia, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), afirmou que a polícia deve ser investigada por abusos cometidos, mas não deixou de criticar a ação dos ativistas.

As agressões da polícia repercutiram negativamente na imprensa e também nas redes sociais. Vítimas e testemunhas da ação violenta divulgaram relatos, fotografias e vídeos na internet. A mobilização ultrapassou as fronteiras do País e ganhou as ruas de várias cidades do mundo. Dezenas de manifestações foram organizadas em outros países em apoio aos protestos em São Paulo e repúdio à ação violenta da Polícia Militar. Eventos foram marcados pelas redes sociais em quase 30 cidades da Europa, Estados Unidos e América Latina.

As passagens de ônibus, metrô e trem da cidade de São Paulo passaram a custar R$ 3,20 no dia 2 de junho. A tarifa anterior, de R$ 3, vigorava desde janeiro de 2011. Segundo a administração paulista, caso fosse feito o reajuste com base na inflação acumulada no período, aferido pelo IPC/Fipe, o valor chegaria a R$ 3,40. "O reajuste abaixo da inflação é um esforço da prefeitura para não onerar em excesso os passageiros", disse em nota.

O prefeito da capital havia declarado que o reajuste poderia ser menor caso o Congresso aprovasse a desoneração do Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) para o transporte público. A proposta foi aprovada, mas não houve manifestação da administração municipal sobre redução das tarifas.

FONTE: http://noticias.terra.com.br/brasil/politica/protestos-devem-resultar-em-mudanca-radical-no-modo-de-fazer-politica,fa6c3d49d455f310VgnCLD2000000ec6eb0aRCRD.html

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Como não é um texto acadêmico e sim jornalístico, tem um tanto de sensacionalismo e exagero ("Cenas de guerra nos protestos em SP"... nada aqui foi cena de guerra propriamente dita, e sim de conflito urbano), mas foram consultados vários professores universitários que falaram pontos interessantes.

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Fico pensando se o governo não tem, e não deve ter pelo visto, nenhum tipo de mecanismo de inteligência para prever esse tipo de manifestação, como certamente se tem em países mais desenvolvidos, nitidamente foram pegos de calças nas mãos.

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Ryo_Hazuki escreveu:
Fico pensando se o governo não tem, e não deve ter pelo visto, nenhum tipo de mecanismo de inteligência para prever esse tipo de manifestação, como certamente se tem em países mais desenvolvidos, nitidamente foram pegos de calças nas mãos.


Não sei não... a França é considerada desenvolvida (G7 e tudo mais) e lembra que em 2007 (ou 2008) rolou protestos violentos das regiões periféricas de Paris? A França foi pega com as calças na mão, não?

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