Globo Esporte escreveu:Lionel Messi tinha 13 anos quando chegou ao Barcelona e foi apresentado a uma nova filosofia de jogo. Naquela época, fim dos anos 90, o clube já colocava na cabeça de seus garotos as lições do "tiki-taka" - o estilo de jogo de toques de primeira e obsessão pela posse de bola que acabaria se tornando marca registrada do Barça na década seguinte. Consolidados como referência, os catalães agora traçaram uma meta: ensinar ao mundo seu jeito de jogar bola.
Por isso, garotos de várias partes do planeta, e ainda com a metade da idade de Messi quando chegou ao Barcelona, já podem ter acesso aos ensinamentos que ajudaram o argentino a se tornar o melhor do mundo por quatro temporadas consecutivas. Durante esta semana, 144 crianças brasileiras, de 6 a 13 anos de idade, receberam, de treinadores qualificados pelo clube catalão, as mesmas aulas ensinadas a Messi, Xavi e Iniesta.
O nome do projeto é FC Barcelona Camp, clínica de futebol organizada pelo time espanhol, que, neste ano, chegou a São Paulo. Pela segunda vez no Brasil, o programa não é para qualquer um. A inscrição no evento, que inclui participação em cinco dias de treinamentos e uniforme, custa R$ 970. O preço pode ser salgado, mas a chance de aprender os segredos do sucesso do Barcelona atraiu garotos de várias cidades do País.
As aulas, porém, não são totalmente inacessíveis aos meninos que não possuem condições financeiras. Interessado em cumprir uma função social, o clube catalão contou com a ajuda de ONGs brasileiras para que 40 crianças de bairros carentes de São Paulo fossem convidadas.
A filosofia do Barcelona é complexa e rigorosa. Os jovens brasileiros não assimilam com tanta facilidade. Muitos deles tiveram a atenção chamada logo ao entrar no campo para a primeira atividade. Os técnicos não permitem que a camisa esteja para fora do calção, nem que o meião fique muito abaixo dos joelhos. Parece frescura, mas faz parte da ideia do Barcelona de mostrar educação e respeito ao cumprimento da regra. Quem veste o uniforme do clube precisar botar isso em prática.
– Os garotos precisam transmitir boa imagem e educação. O Barcelona é um time muito disciplinado e isso é importante para a gente – explica Jordi Blanco, professor catalão que mora no Brasil há seis meses, desde quando recebeu proposta do clube para dirigir a primeira escolinha de futebol oficial no país.
A FCBescola do Rio foi inaugurada em agosto do ano passado, no Rio de Janeiro. Sob o comando de Blanco, os participantes do FC Barcelona Camp recebem aulas rigorosamente iguais às do cronograma imposto pelo Barcelona. Administrar isso não tem sido tarefa simples, pois a procura de jovens pelas aulas aumenta cada vez mais. Efeito da contratação de Neymar pelo clube catalão.
Não é só jogar. O mais importante para esses meninos é saber que eles têm de pensar em campo. Isso é o mais difícil. Aqui todos jogam muito bem, mas falta esse pensamento. No Brasil existem muitos bons jogadores e poucas boas equipes, com espírito de time
Dome Guasch, treinador catalão
– Realizamos um evento recentemente em Itaparica, na Bahia, e contamos com muita presença de garotos argentinos. Quando a gente perguntava para eles qual jogador gostariam de ser, por incrível que pareça, a preferência deles foi por Neymar – explica Gustavo Albernaz, coordenador técnico da escola e do FC Barcelona Camp no Brasil.
Dome Guasch, outro treinador catalão presente na clínica, se mostrou um dos mais empolgados em dar aulas no Brasil. Segundo ele, a paixão e a ginga dos brasileiros, aliados à inteligência espanhola na hora de entender situações específicas de jogo, podem fazer o futebol perfeito.
– Não é só jogar. O mais importante para esses meninos é saber que eles têm de pensar em campo. Isso é o mais difícil. Aqui todos jogam muito bem, mas falta esse pensamento. No Brasil existem muitos bons jogadores e poucas boas equipes, com espírito de time - diz.
Apesar de serem muito jovens e com pouco tempo sob o comando dos treinadores do Barça, as crianças captam rapidamente as diferenças para os clubes onde treinam no Brasil. Mateus Vasconcelos, de 8 anos, joga no Grêmio e viajou a São Paulo para a clínica. O garoto diz que as atividades são mais difíceis do que está acostumado. Cauan Donadelli, também de oito anos, detectou outras mudanças.
– É muito diferente treinar aqui. Eles pegam mais pesado, mas é bom porque a gente aprende mais futebol – conta o garoto que levou uma bronca do técnico Jordi Blanco durante um treino por demorar muito para passar a bola.
Escolinha Futebol Barcelona (Foto: Marcos Ribolli)
Garoto se diverte na escolinha de futebol do Barcelona (Foto: Marcos Ribolli)
A clínica atende a diferentes perfis de garotos. Dos que sonham jogar futebol profissionalmente e querem absorver o máximo de experiência aos que estão apenas brincando de jogar bola nas férias. Mesmo assim, os técnicos atribuem valores iguais aos dois tipos de crianças. Apesar de ser possível a descoberta de um novo talento e de os treinadores serem obrigados a enviarem relatórios sobre os participantes ao Barcelona, eles acreditam que dificilmente algum garoto atendido pela clínica vá parar na Espanha.
– Não podemos mudar a vida das pessoas se não estamos 100% seguros de que ela terá êxito fora de seu país. Primeiro vem a família, a felicidade, uma boa vida para a criança. Depois o futebol. Precisamos ter muita segurança de que ele vai triunfar no Barcelona para fazê-lo se mudar. Para o clube, valores como respeito, família e amizade vêm primeiro – explica Dome Guasch.
Vou matricular meu filho nessa escola assim que ele estiver na idade. 8)