Foi anunciando na madrugada de hoje o negócio. Por valores astronômicos – US$8,5 bilhões – a Microsoft adquiriu o Skype, coisa que à primeira vista (se você tiver uma visão MUITO) rasteira não faz sentido, afinal o MSN também skypa.
Não é a primeira vez que o Skype é vendido por uma baba, em 2005 o eBay, na aquisição aleatória da década comprou o Skype por US$2,6 bilhões, depois ficou anos sentado em cima da empresa, sem saber o que fazer com ela, afinal eram um site de leilão.
Felizmente o eBay foi tão inteligente com o Skype quanto o Yahoo foi com o Flickr, e manteve suas mãos LONGE do serviço. O Skype continuou crescendo, os números são assustadores. 500 mil novos inscritos por dia, 170 milhões de usuários conectados, 30 milhões de comunicações simultâneas e 209 bilhões de minutos de áudio e vídeo transmitidos em 2010.
Mesmo assim o Skype não é… social. Digo, até é, mas ele é o que se chama de rede social pessoal, você não costuma ter desconhecidos no Skype, a lista de contatos dele é bem mais seletiva que a dos instant messengers.
Agora adivinhe qual o CONCEITO do Windows Phone? Pois é, uma rede social pessoal. Guarde isso.
A parte de instant messengers tentou acompanhar a onda do Skype, tanto o MSN quanto o gTalk vazem VOIP, o Google inclusive oferece alternativas gratuitas e/ou muito baratas para o o Skype, mas… não pegou.
Claro, todo mundo usa, mas Skype ainda é O sinônimo de comunicação web não-textual. Só há um lugar onde o Skype não pegou realmente, e é justamente uma das áreas de expertise da Microsoft, o mundo corporativo.
Uso corporativo é diferente de todo mundo instalar o Skype e sair falando, o buraco é mais embaixo e está cheio de dinheiro. Tem a ver com integração com sistemas de gestão, CRMs, Outlooks, sistemas de billing, suporte e muitos outros. Pra COMEÇAR você precisa de uma lista de contatos unificada dentro da empresa.
A Microsoft tem know-how de sobra nessa área, mas suas soluções de VOIP sempre esbarraram no problema de ser algo… interno. Com a tecnologia Skype, você passa a ter toda uma solução de telefonia, interna e externa gerenciada por um backend bem mais poderoso que meia-dúzia de scripts e alguns bacalhaus feitos na base da magia negra.
E pra nós?
Em uma coletiva de lançamento hoje, 8AM PDT Steve Ballmer e Tony Bates, CEO da Skype anunciaram oficialmente o negócio, explicando vários pontos onde havia dúvidas. Vamos a eles:
1 – Outras Plataformas
A Microsoft continuará a investir em versões do Skype para ambientes não-windows, a grande força do SKype é sua pervasividade, skype roda até em Symbian e Televisão.
2 – Monetização
A publicidade será a base do faturamento do Skype. Na verdade, continuará sendo. Como a Microsoft tem uma plataforma própria de anúncios, acaba de acrescentar a seu portfólio 600 milhões de consumidores em potencial. Os anunciantes estão felizes.
3 – Futuro
Ballmer falou que já há um monte de idéias sendo discutidas dentro das empresas, inclusive a integração Skype + Kinect (Ou, conforme deduziu o Celso Jr, Skynet). Será provavelmente semelhante ao que já existe com o Live Messenger, mas algumas ordens de magnitude mais abrangente.
Quem perde?
Darei a dica: Uma certa empresa de frutas vem tentando emplacar seu sistema de videochamada. O negócio é bonito, elegante e veio com a promessa de usar protocolos abertos, podendo ser usado por qualquer desenvolvedor, criando todo um ecossistema em torno do serviço.
Ficou na promessa, Facetime é um negócio legal mas é só mais um dos milhares de softwares de videochamada, faz bastante sucesso mas dentro do gueto do TCP/IP. A Apple não liberou a mixaria, o único cliente fora iPhone 4 é o do Mac (que é pago!). Dentro do mundo Apple ele pode ser excelente mas fora, não faz marola.
O Skype por sua vez funciona muito bem, obrigado no iPhone e no Mac. Com a Microsoft por trás uma chamada corporativa poderá ser direcionada por vias tortuosas até uma conference call em vídeo, com gente de casa no PC, na rua com um iPad e no motel com o XBOX+Kinect (sim, há motel com xbox. Não perguntem).
Se a Apple tinha alguma ilusão de entrar no mundo corporativo com o Facetime, esqueça.
Em Mountain View também não está fazendo um clima muito agradável. O gTalk surgiu como excelente ao Live Messenger e sua estética de penteadeira de dama que troca favores por dinheiro, mas a integração forçada com o gMail e a implicância em lançar clientes para plataforma Apple o transformaram em uma aplicação essencialmente desktop. Agora com o Android isso foi um pouco amenizado, mas nem de longe é uma solução.
O gTalk também não é exatamente amigável ao modelo corporativo não-google, ele foi todo direcionado para a plataforma Google Apps, que é excelente para pequenas empresas mas não é algo que uma Fortune 500 coloque suas fichas.
Hello?
Há um outro fator importante na história. NOKIA. A empresa tem um know-how e uma penetração imensos (ui!) no mundo corporativo. O melhor smartphone não-multimídia do Universo é o E71. Imagine uma série de business phones Nokia/Windows Phone, com integração total Skype/Outlook/Biztalk.
Em termos de billing + segurança de dados a empresa poderá saber tudo que o usuário fez, quantas horas falou, com quem e quando. O iPhone no máximo diz onde você esteve.
Uma empresa poderá contornar TODOS os custos de telefonia mobile fora dados, se concentrar suas ligações em uma central Skype. Desde os tempos do Windows Mobile 6.5 já era transparente usar Skype no celular, com uma integração “de fábrica” será uma brisa.
O GRANDE problema de implantação de novas tecnologias em ambiente corporativo é treinamento, usuários não gostam de aprender coisas novas. Boa parte das implantações de Linux fracassa por isso, já vi gente de mimimi exigindo Office Full por não querer aprender a mexer no BROffice, que atenderia perfeitamente. No caso era secretária do Presidente, então a ordem da gerência de TI foi “entuba”.
Ao ver um Skype, algo que muito provavelmente é familiar, o usuário corporativo terá bem menos prevenção contra o recurso, e o utilizará muito mais do que outros programas enfiados goela abaixo.
E pros pobres mortais?
Muito provavelmente as versões continuarão saindo, a Microsoft continuará a enfiar os banners e nós fingiremos que olhamos pra eles. Anunciantes pagarão e todos ficarão felizes. Sabotar o Skype agora seria estupidez, e se a Microsoft estivesse planejando algo incrivelmente estúpido e disfuncional, teria mudado o nome para SkypeME.