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BRT Transoeste, solução para o transporte?

Publicado originalmente em Cidades Possíveis, http://www.cidadespossiveis.com/post/24777525633/brt-transoeste-solucao-para-o-transporte

Com muito entusiasmo se comemorou esta semana a primeira obra inaugurada com o selo Olímpico no Rio de Janeiro: o BRT Transoeste. A Opinião do Jornal O Globo, sob o título “PARA VALER” disse que “FOI POSITIVA a viagem que testou o corredor expresso Transoeste: estações modernas, ônibus confortável e uma fluidez impensável no trânsito das vias tradicionais”.

Mas a dita via não parece nada tradicional. Ao se olhar a imagem do anúncio da Odebrecht, veiculado nos principais jornais da cidade e que brinda o Rio do futuro, nota-se que a primeira grande obra pronta do novo momento olímpico não veio resolver o problema do trânsito, já que poucos edifícios compõem o cenário e poucas pessoas habitam a região. A via expressa corta terrenos vazios, agora mais valorizados com a nova pista, e que tiveram a sorte de estar justo no caminho do investimento público. Sorte?

A opção por uma cidade expandida

Para se entender a lógica do crescimento urbano do Rio de Janeiro é preciso perceber que essa expansão “saltada”, onde se constrói um prédio e a quilômetros de distância se constrói outro (repare na propaganda da Odebrecht ou faça um sobrevoo pela Transoeste) interessa a grupos empresariais bem específicos: o da construção civil e o setor imobiliário com seus aparatos financeiros. São estes justamente que se beneficiam ao construir autopistas e valorizar seus próprios lotes vazios através do investimento público em infra-estrutura urbana, chegando a influenciar até mesmo o trajeto dessas vias.

É um negócio muito rentável, pois através da atuação do Estado estes grupos se apropriam da riqueza produzida por toda a cidade e que, por isso, deveria beneficiar a todos. A Transoeste foi a primeira grande obra a sair do papel, a quatro anos dos Jogos Olímpicos. Não à toa os setores da construção civil e imobiliário são os maiores doadores de campanhas eleitorais, como será visto mais uma vez em 2012. A atual expansão do Rio de Janeiro não é uma opção natural e não se dá por falta de espaço na cidade, como se costuma pensar. Ela obedece a lógica dos interesses econômicos e da especulação imobiliária.

Essa cidade que está em construção, que não tem ruas para pedestres e que os lugares de encontro costumam ser locais de consumo, beneficia também o deslocamento com automóvel individual. Apesar do BRT Transoeste carregar em seu nome a sigla de um transporte público, a cada pista segregada de ônibus há duas exclusivas para carros. Um modelo rodoviarista que vem se consolidando nas grandes cidades brasileiras desde a segunda metade do século XX, com abertura de túneis e viadutos e que, apesar de ser criticado atualmente, ainda se reproduz sob outros discursos.

A reportagem do Jornal O Dia diz que “com o BRT, os 32km do trajeto Pingo D’Água – Terminal Alvorada, na Barra da Tijuca, foi percorrido em 55 minutos. Antes, levava uma hora e meia. O Túnel da Grota Funda, entre o Recreio e Guaratiba, também foi aberto ao trânsito”. Ou seja, mesmo com o novo sistema de transportes, o trabalhador da Zona Oeste vai gastar duas horas do seu dia no deslocamento casa-trabalho. A abertura de mais um túnel, que por um lado encurta distâncias, por outro amplia o limite urbano da cidade. Mas por que a população de baixa renda tem que morar tão longe? Vale a pena?

Custos socioambientais

Uma cidade expandida precisa de serviços públicos na mesma proporção. No entanto, o custo de se levar saneamento básico, transporte, escolas, etc., a grandes distâncias e de forma espraiada é maior do que em uma área densamente povoada, e lógico que isso fica para depois. Na região da AP5, cortada pela Transoeste e onde se localizam os bairros de Santa Cruz e Campo Grande, apenas metade do esgoto é coletado e só 4% é tratado, o restante é despejado in natura nas baías de Sepetiba e da Guanabara. Isso afeta diretamente a saúde dos moradores e polui a região, contaminado crianças que são as que mais sofrem com doenças diarreicas, levando até a morte.

O saneamento da AP5 está sob responsabilidade da Prefeitura, que licitou para iniciativa privada a administração do setor pelos próximos 30 anos. Está prevista a construção de 19 estações de tratamento, e a meta é que ao fim da concessão seja tratado 90% do esgoto da região. Mesmo se a meta for cumprida, em 2042 o esgoto ainda não estará sendo totalmente tratado. Segundo o Censo, ao progredir no ritmo atual, o saneamento básico no Brasil só será universal em 2070. São as consequências pouco discutidas de se expandir a cidade aleatoriamente.

A opção por uma cidade excludente

O novo túnel da Grota Funda, chamado pelo ex-presidente Lula de “túnel dos pobres”, vai realizar o sonho da classe alta: poder contar com a mão de obra da população de baixa renda mas mantê-la a quilômetros de distância. Durante a sua construção, em 2011, a Comunidade Vila Recreio, que se localizava perto da entrada do novo túnel, foi completamente removida. Era uma comunidade consolidada, com casas em boas condições e serviços públicos regulares. A opção dada aos moradores foi se mudar para Campo Grande, na outra ponta da Transoeste. Na mesma região, Vila Harmonia e Restinga também já não existem, e a Vila Autódromo está ameaçada de remoção.

A realocação forçada da população de baixa renda é uma das faces da especulação imobiliária que atinge toda a cidade. Isso não é apenas efeito do encontro entre o capital internacional e o Rio de Janeiro, trata-se de um projeto de cidade dirigido pelo poder público. A Transoeste ser a primeira grande obra inaugurada, uma via expressa que removeu centenas de famílias pobres e que corta trechos completamente inabitados, é emblemático da lógica de priorização do investimento público no Rio de Janeiro, onde se estimula a periferização e a concentração das famílias de baixa renda longe dos centros.

Está em construção uma cidade cada vez mais segregada com bairros de rico e bairros de pobre, e entre eles lotes vazios sendo valorizados. O BRT Transoeste não é a solução do transporte na cidade e não foi concebido para sê-lo, ele serve primeiro à especulação imobiliária. Entender isso é chave para perceber que os graves problemas sociais que a cidade enfrenta, infelizmente, não estão sendo discutidos nos jornais. O Rio de Janeiro está desperdiçando um momento de grandes oportunidades, que poderia reverter a desigualdade histórica que sempre marcou a cidade, ao deslocar a pobreza para longe. Optou-se por construir o “túnel dos pobres” ao invés de eliminar a pobreza. Uma pena.

FONTE: http://lastroufrj.wordpress.com/2012/06/12/brt-transoeste-solucao-para-o-transporte/

Desde o início fui crítico a esse lance de BRT, mas em gerala s pessoas preferem engolir as lorotas do prefeiro eduardo Paes.

P.S: O blog Cidades Possíveis é leitura muito recomendada, http://www.cidadespossiveis.com/

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Tu é carioca??? Mas bem, eu não conhecia esse projeto por isso não posso ser preciso em nenhum comentário, mas acho duas coisas lendo esse texto:

1) Essa de "bairro rico/bairro pobre" sempre existiu e existe em todos os lugares. Pensar em uma "união" é irreal e isso não é necessariamente ruim desde que existe condição de vida em ambos (o que o texto dá a entender que não tem).

2) Os caras falaram o óbvio: especulação imobiliária dá dinheiro. E como tudo nesse país é feito com segundas intenções (literalmente tudo, não existe nada publico que alguém não ganhe algo de maneira ilícita) não seria diferente com essa obra. Tenha certeza que se puxar quem são os donos desses terrenos vazios vários vão estar em nome de pessoas ligadas a construtora ou ao governo do Rio, senão os dois....

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Melhor nick da historia!! escreveu:
Tu é carioca??? Mas bem, eu não conhecia esse projeto por isso não posso ser preciso em nenhum comentário, mas acho duas coisas lendo esse texto:

1) Essa de "bairro rico/bairro pobre" sempre existiu e existe em todos os lugares. Pensar em uma "união" é irreal e isso não é necessariamente ruim desde que existe condição de vida em ambos (o que o texto dá a entender que não tem).

2) Os caras falaram o óbvio: especulação imobiliária dá dinheiro. E como tudo nesse país é feito com segundas intenções (literalmente tudo, não existe nada publico que alguém não ganhe algo de maneira ilícita) não seria diferente com essa obra. Tenha certeza que se puxar quem são os donos desses terrenos vazios vários vão estar em nome de pessoas ligadas a construtora ou ao governo do Rio, senão os dois....


This.


Pouca coisa foi realmente feita com a intenção de beneficiar a população de baixa renda.

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Pobre nunca é beneficiado. Graças as olimpiadas, inumeras familias estao tendo suas casas demoliadas pela transcarioca... O valor dado pela prefeitura é ridiculo e logo novas favelas irão surgir... Valeu olimpiadas!

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