Existe uma boa quantidade de artigos na internet defendendo o uso de alguma distro Linux. Alguns são alguma variação de "Por que você deveria usa Linux". Outros possuem alvos, como "Por que você deve usar Linux e abandonar o Windows para sempre", mas em geral todos eles apontam as qualidades sem necessariamente dizer quais são os defeitos. A verdade é que se existisse um sistema operacional perfeito, todos o usariam – tanto Windows, Mac OS X e Linux possuem seus defeitos (e publicaremos artigos semelhantes a este para ambos nas próximas semanas).
Temos alguns artigos do tipo aqui no Canaltech, como "O que levar em conta antes de decidir pelo Linux como sistema operacional?" e outro explicando o que é o Linux. Além disso, cobrimos os lançamentos recentes do Ubuntu, principal distro, como em "O que há de novo no Ubuntu 13.10 (Saucy Salamander)" e fazemos questão de mostrar que as distribuições Linux têm sim seu mérito. Agora, defender o Linux como se ele fosse o Santo Graal dos sistemas operacionais é viver em um mundo cor de rosa.
Um dito popular diz que um bom advogado é competente em defender tanto a vítima quanto o acusador, e é exatamente isso que faremos nesse texto, mostrando os principais, mas não os únicos, defeitos da maioria das distribuições Linux.
Falta de aplicativos
Ok, sabemos que o LibreOffice é um bom substituto do Microsoft Office e há versões dos principais navegadores para a maioria das distribuições Linux. Vamos abrir esse leque um pouco: e para o Premiere Pro? E o Photoshop? A resposta mais comum para esse último é apontar o GIMP como salvador da pátria. De fato, ele é um excelente editor de imagens, mas não adianta colocá-lo lado a lado com o Photoshop. Desculpem, pessoal.
Não precisamos nem nos ater aos programas mais profissionais. Quem se acostumou a utilizar o Evernote, por exemplo, fica bastante frustado que até hoje não exista uma versão para qualquer distro. Ou mesmo o Wunderlist, e ambos são exemplos de programas que sincronizam Android/iPhone com Windows/Mac OS X e não funcionam com o Linux, e isso é bem frustrante. Vale lembrar que esses são apenas 2 exemplos.
Existem até alguns bons programas que trazem versões para Linux, como o Dropbox e o Firefox, mas o ponto aqui não é que alguns deles sejam suportados ou não. Nem mesmo se há bons substitutos, e sim que não há a variedade de opções do Windows e do Mac OS X. Conviver com isso é uma coisa, mas falar que o Linux está em pé de igualdade com o os outros dois em relação a aplicativos é muita inocência.
Jogos? Esqueça
Convidamos vocês a entrarem na central de aplicativos do Ubuntu e caçar algum jogo com uma boa história E bons gráficos. Inclua os pagos, para não sermos injustos. Achou? Que bom, então ele tem o mesmo nível de qualidade de um Battlefield 3 ou um Assassins's Creed? Não? Um pouco menos, vai? Também não? Pelo menos ele é compatível com esses jogos, caso pretenda comprá-los? Ainda não? Poxa, brincadeira, hein!
A resposta mais padrão para essa situação é "Eu uso o Linux para trabalho e estudo, não para jogos", mesmo porque não há opção, certo? E outra: eu posso usar o Windows para trabalho e estudo também e, se algum dia eu acordar louco para instalar um jogo, basta baixá-lo e instalá-lo. É uma questão de princípio, não de uso, e em geral tanto jogos de última geração quanto programas de alto nível que são compatíveis com Linux também são suportados no Windows e no Mac OS X.
Obs.: não mencionamos o Steam para Linux pois, na data de publicação deste artigo, ele só é oficialmente suportado no Ubuntu. Nosso intuito aqui é abordar o Linux como um todo sem focar em uma distro em particular, e a Valve ainda está estudando o port do Steam para outras distribuições.
Software livre é bom, então?
Nada melhor para programadores do que a possibilidade de olhar o código fonte de um programa e aprender como ele funciona. O problema é quando uma distro obriga o usuário a utilizar somente software livre, impedindo-o até de escutar uma simples música em MP3. O Debian é um exemplo, uma distro que faz questão de somente instalar pacotes livres, o que já assusta usuários mais básicos que querem somente abrir o navegador e assitir a um vídeo em Flash, mas não pode porque é um "programa proprietário".
O princípio em si é até bom, mas perde o sentido quando o "programa proprietário" é colocado como um vilão imperdoável, inimigo dos usuários e responsável até pelo buraco da camada de ozônio. E ele não restringe somente os programas e módulos pagos, mas também os gratuitos, ou seja, a questão aqui não é pagar ou não pelo software (aliás, "software livre" nunca foi sinônimo de "software gratuito", como muitos sabem), mas sim de visão filosófica.
Se existisse uma opção em que o usuário pudesse escolher instalar os programas proprietários que julgar necessários, como acontece com o MP3 e o Flash no Ubuntu, até entenderíamos, agora qual é o motivo de tanto alarde? Sério, qual? E outra, existem substitutos para programas proprietários, como é o caso do OpenJDK para o JDK da Oracle e do driver genérico de placas de vídeo para modelos da AMD e NVIDIA, mas não é a mesma coisa, já que eles apresentam performances bem diferentes. No caso das placas de vídeo, em especial, temos mais a dizer no próximo item.
Precisa sim de conhecimentos avançados
O Ubuntu é o melhor exemplo de distro que basta instalar e começar a usar. Ao contrário do Windows, todos os drivers são adicionados, a placa de vídeo é reconhecida, as portas USB funcionam perfeitamente, assim como o Wi-Fi. Muito bonito, mas isso é meia verdade. Se você possui uma placa de vídeo dedicada, como uma Radeon HD, boa sorte procurando tutoriais na internet para instalar a última versão do driver. Por sinal, no caso das placas de vídeo da AMD, a diferença de performance entre o driver genérico e o proprietário pode chegar até a 400% para o mesmo hardware (mas tudo bem, né? Ele não suporta jogos mesmo).
Esse é um bom exemplo da lástima que é fazer alguma alteração avançada em qualquer distro Linux. Alguns programas só podem ser instalados por compilação, exigindo um mínimo de conhecimento técnico do usuário. O Fedora, outra distro bastante popular, só permite que você assista a vídeos com decodificação via hardware se o usuário habilitar os repositórios RPM Fusion, outra coisa que não tem uma situação parecida no Windows.
Querendo ou não, alguém que se propõe a usar qualque distro Linux tem que perder algumas madrugadas lidando com os mais variáveis problemas. Não estamos nos referindo a você que costuma fazer isso com frequência, por hobby ou possui uma certificação. Há usuários do tipo no Windows e no Mac OS X. Estamos nos referindo aos usuários comuns, que só querem uma máquina para o básico. Por que algumas coisas, como instalar um driver de vídeo de última versão, são tão complicadas?
Ainda que muitos usuários do Linux se gabem de seus conhecimentos, dizendo que usuário de Windows só sabe clicar "Avançar, Avançar, Concluir", talvez seja isso que os usuários queiram de verdade. De manipular planilhas à edição avançada de imagens, qualquer usuário quer que o sistema operacional interfira o menos possível e ajude-os a fazer o trabalho que tem que ser feito. Não querem ficar lidando com problemas de personalidade do sistema.
Conclusão
Nos ativemos a 4 itens, caso contrário o artigo teria ficado muito longo. O Linux tem sim seus defeitos, e nosso objetivo aqui é tão somente apontá-los, sem aumentar ou diminuir sua reputação. É assim em qualquer sistema operacional. Muitos defendem uma distro Linux como se ela fosse a prova de crítica, com um fanatismo digno de usuários de iPhones, mas infelizmente ela possui algumas falhas que já foram resolvidas há bastante tempo nos concorrentes.
Este artigo foi escrito por um usuário do Linux desde a primeira versão do Ubuntu ainda em 2004. Nesses quase 10 anos, foi possível observar não só as melhorias do sistema em si, como também o foco dessa distro em tornar a vida do usuário mais fácil. Foram muitos erros no X11, kernel panics, problemas de dependências e repositórios instáveis, assim como muitas telas azuis no Windows, paralelamente.
Os dois sistemas possuem suas qualidades e problemas, e por isso podemos até nos arriscar a dizer o seguinte: defender fervorosamente o Linux, como se ele fosse a prova de falhas, é encantamento dos primeiros dias de uso. Quem usa qualquer distro Linux há algum tempo e consegue resolver uma variedade de pepinos sabe que, apesar da maior estabilidade, melhor uso de recursos e outras vantagens, ainda falta muito para ele ter a facilidade de uso de um Windows ou um Mac OS X, mesmo que isso não o torne um sistema inferior.
Fonte: http://canaltech.com.br/analise/software/Quatro-razoes-para-nao-utilizar-o-Linux/#ixzz2ymvFWVh4