Experiência, Opinião e Reviews
Escrevo para sites de games a muitos anos. Aliás, o faço a tanto tempo, que acredito ter começado em um período em que eu sequer tinha a experiência e a redação necessários para fazê-lo. Dito isso, obrigado senhor Sammy por abrir as portas, há tantos anos, para escrever para o Game Hall.
Ao longo desse período amadureci muito minha “entidade gamer”. Descobri que amo o universo do entretenimento eletrônico o suficiente para não somente me contentar em ser um inveterado jogador, mas para estudar, o quão aprofundado me for o possível, suas particularidades, em todas as suas vertentes.
Obviamente isso me torna tecnicamente cada vez mais conhecedor desse mundo, bem como cada vez mais crítico acerca daquilo que jogo. Ou como meus amigos gostam de dizer, chato.
Me interesso cada vez mais por me aprofundar nesses estudos e a sempre colocar meus aprendizados à prova. Também, por algum motivo inexplicável, me interesso cada vez mais em escrever sobre minhas análises acerca de tudo o que circunda o mundo dos vídeo games.
Essa vontade de escrever me fez parar por algum tempo em frente a meu notebook e trazer até vocês esse texto. Texto esse, baseado em uma das minhas inúmeras análises para com tudo o que circunda o mundo do entretenimento eletrônico, que serve basicamente para lhe dizer que se alguém lhe informar que opinião pessoal não vale nada, você pode mandar esse alguém enfiar essa frase no rabo dele.
Partirei da questão primordial que me motivou inicialmente a formatar esse artigo: reviews. Isso mesmo, porquê se você acha que é possível fazer uma análise apenas vomitando argumentos técnicos, lhe trago más notícias.
Lembrando que tudo o que foi e que ainda será abordado nesse texto retratam tão somente minhas visões acerca de tais temas, bem como são consequências de minhas análisespessoais acerca de tais visões. Pode até parecer, mas não estou aqui para dar um “guia da verdade gamer” para ninguém, apesar de esperar que o leitor que até o final chegar tenha algum momento válido de reflexão, mesmo que seja para não concordar com nada do que leu.
Uma análise obviamente deve levar em consideração questões técnicas e para tal o avaliador deve possuir conhecimentos mínimos acerca de tais questões. Isso o auxiliará a explicar a contento para seu público o motivo de algumas características de um jogo serem ou não pontos positivos ou negativos.
Isolemos um dos alicerces de um jogo para fins de exemplificação, mesmo que de maneira bem macro. Vamos trabalhar com a questão de análise do gameplay de um jogo.
É importante entender tecnicamente quais são os aspectos que fazem com que o avaliador diga se o jogo entrega ou não uma boa experiência com relação ao gameplay. Muitos aspectos entram em cena aqui: Estilo de jogo, design dos ambientes, mapeamento dos botões, delay input de comandos, precisão de captura dos comandos, variedade de comandos, complexidade de comandos, dificuldade nativa do jogo, entre muitos outros.
Tudo o apresentado acima demanda realmente conhecimentos técnicos para serem devidamente analisados. O problema é que tais conhecimentos compilados e isoladamente apresentados não compõem devidamente um review.
Outros dois aspectos são muito importantes para se fazer uma análise: a experiência de quem está jogando e também as preferências gamer desse jogador. Na verdade, uma coisa é completamente dependente da outra.
Como, independente do conhecimento teórico adquirido de game design, poderia eu realizar um julgamento válido acerca de gêneros de jogos dos quais não jogo e, portanto, não compreendo?
Não gosto de jogos de futebol. O último game que joguei e que verdadeiramente me diverti fazendo-o foi o saudoso International Superstar Soccer Deluxe, para SNES. De lá para cá, foram somente uma partidinha ou outra, completamente descompromissadas, de um Winning Eleven ou um FIFA, lá no Playstation.
Entenda, eu não gosto desse tipo de jogo, assim sendo, não os jogo. Como eu poderia jogar qualquer jogo de futebol atual e conseguir avaliar o seu gameplay de maneira justa, uma vez que eu já estaria jogando de “nariz torcido”?
Vou mais longe ainda. Como eu poderia realizar tal avaliação sem possuir um cabedal de experiências com jogos desse gênero, que me permita fazer relações válidas entre o gameplay de um jogo atual com jogos mais antigos?
Como eu poderia ter a exata ciência de que por mais que em elementos básicos, como tempo de resposta de comandos, o jogo se saia bem, ele é um bom representante de um jogo de futebol se eu não examinei outros jogos de futebol do passado? Afinal de contas, muitos outros jogos de futebol podem ser bem mais competentes do que o que eu estaria experimentando e essa minha falta de experiencia obscureceria e diretamente influenciaria minha análise acerca do gameplay do jogo que eu estou jogando no momento.
Ora, só posso ter experiência em um gênero se eu o jogar com regularidade. Enquanto jogador, só se joga com regularidade aquilo que se gosta. Ou seja, somente podemos possuir verdadeira experiência e conhecimentos específicos de um tipo de jogo se gostamos muito desse tipo de jogo.
Aliar conhecimentos técnicos com experiência de jogo é a chave de um review o mais honesto o possível.
E daí, depois de toda essa ladainha, você me pergunta: “mas cadê a influência da opinião pessoal em um review”?
Caso ainda não tenha feito sozinho essa relação ao longo do texto, não tem problema. Continuemos.
O fato de a experiência de quem está fazendo o review ser um importante pilar na construção do mesmo, por si só já é uma clara evidência de que opinião pessoal é importante.
Como já foi mencionado, a experiência advém necessariamente do ato de se jogar. Não se joga aquilo de que não se gosta, ou pelo menos não se joga um ou mais gêneros de jogos que não se gosta. Assim senso, há de concordar comigo de que a opinião de quem não joga um ou mais tipos de jogos é que esses não são bons, ou que pelo menos não o agradam, bem como o vice-versa também seria verdadeiro.
O que jogar, e daí quais tipos de jogos obter a experiência necessária para criar relações de comparação e avaliar melhor o que é ou não bom dentro daquele gênero, provém de uma origem absolutamente subjetiva: o gosto pessoal.
Por mais que um gamer seja bem eclético com o que jogar, há sempre suas preferências e seus desgostos. Sempre haverão tipos de jogos os quais teremos mais experiência para com eles, bem como aqueles dos quais mal conseguimos mensurar suas superfícies mecânicas.
Vou mais longe. É absolutamente possível gostar de jogos ruins, por mais que se saiba que são ruins, e que se tenha absoluta ciência de o porquê, em uma análise justa, tais jogos são considerados ruins. Bem como é plausível a situação inversa, não gostar de um jogo que você sabe que possui todos os elementos de um bom jogo alinhados.
E não, as duas últimas situações apresentadas acima não fogem do escopo do assunto do texto, pois talvez a parte mais importante de uma análise é justamente a transmissão para o leitor (ou ouvinte, ou espectador) das sensações que o jogo proporcionou ao criador da análise.
E sim, a nota de um jogo pode ser baixa e você pode ter todos os motivos do mundo para justificar o fato de o game ser ruim, mas isso não elimina o fato de ao longo do review ficar claro o quanto, mesmo com os problemas apontados, o game conseguiu trazer algum nível de diversão e ser específico em como você reagiu a isso.
Já cansei de ter boas experiências de jogo com jogos que são no máximo medíocres, mesmo sabendo de todos os problemas do mesmo. Estão aí Shinobi e Kunoichi (Nightshade), pérolas da mediocridade para Playstation 2 que eu adoro, que não me deixam mentir.
Um texto que apresente um caminhão de termos e questões técnicas acerca de um game pode servir para apresentações da E3, para reuniões da equipe de desenvolvimento e afins, mas para quem procura um review para saber o como o jogo o é, de jogador para jogador, isso não é o suficiente. Nesse segundo caso é necessário ir além e também conversar de jogador para jogador.
Então da próxima vez que estiver conversando com seu amigo sobre algo referente a games e ele não achar suas conclusões válidas, unicamente se valendo do clássico “essa é só a sua opinião”, sem apresentar contra-argumentos para continuidade do papo, lembre-se em especial do início desse texto e mande ele enfiar logo essa frase sem vergonha no rabo dele.
Caso queria fazer algo mais elegante, lembre-o que concordar ou não contigo é nada mais do que um alinhamento opinativo com o que foi exposto, ou seja, é só mais uma opinião.
PS: Não confundir opinião com unilateralidade argumentativa, isso é coisa de ista idiota. Até porque, para compormos uma opinião sólida acerca de algo não podemos isolar variáveis, por quaisquer que sejam os motivos. Mas o desenvolvimento desse raciocínio fica para um outro dia…
Fonte: Blog Gamerniaco