As franquias exclusivas da Nintendo mais famosas são também aquelas que lhe dão força. Afinal, se algum jogador quiser jogar Mario ou The Legend of Zelda terá que ser em um console da Big N. Além dessas duas poderosas séries, podemos contabilizar Donkey Kong e Metroid. Esta última, entretanto, sofre de uma "maldição". Sim, uma maldição, pois apesar de seus jogos terem uma qualidade equivalente às criações de Miyamoto, isso não é refletido nas vendas.
São mais de 25 anos de história, Metroid já não é mais uma adolescente e já passou por muitas situações e equipes, dentro e fora da Nintendo. Até cogitou-se terminar a série, pois a maldição que a persegue é muito forte e desencoraja os mais bravos produtores. Entretanto, a Big N não é grande à toa, e a série está aí até hoje, com muito a ser contado.
O nascimento de Metroid
No hoje distante ano de 1986, um "tal" de Shigeru Miyamoto havia criado dois jogos de muito sucesso: Super Mario Bros. (NES, 13 de setembro de 1985) e The Legend of Zelda (NES, 21 de fevereiro de 1986). As vendas foram incríveis e as críticas foram todas favoráveis. O antigo mentor de Miyamoto, chamado Gunpei Yokoi, junto com o seu time, o Research and Development 1 (R&D1), aproveitaram o que tinha de melhor nos dois jogos citados e tentaram melhorar. Dessa forma, eles juntaram o estilo plataforma de Mario, a exploração não-linear de Zelda e os jogos de tiro (que estavam fazendo sucesso nos arcades da época). O tema, por outro lado, não seguiu nenhum desses jogos, que são coloridos e alegres, mas um mais sombrio e melancólico, com um senso de isolamento marcante. Nascia, dessa forma, Metroid.
No jogo, a caçadora de recompensas Samus Aran deve se infiltrar sozinha na base dos Space Pirates e sua líder, Mother Brain, no Planeta Zebus para impedir que os mesmos utilizem os Metroids (seres parecidos com águas-vivas e que têm o poder de sugar a energia vital dos seres vivos) para a dominação da galáxia.
A sensação de liberdade no jogo era enorme, podia-se ir para a direita, como a maioria dos jogos, mas também era possível ir para a esquerda, o que não havia sido bem explorado até então. Dessa forma, não era necessário seguir simplesmente do ponto A ao ponto B, mas sim explorar o mapa por completo, como bem entendesse.
Com toda essa liberdade de ir e voltar, o game ficou muito grande e, como era de se esperar, não dava para terminar jogando apenas uma vez. Por isso, decidiram utilizar um sistema que permitisse salvar a partida. Quando o game foi portado para o NES, o cartucho não oferecia a opção de salvar o game, por isso os produtores criaram a opção de utilizar senhas (que o jogador receberia ao passar a fase) e pudesse voltar daquele ponto.
Os jogadores, ao zerar Metroid, tiveram uma das maiores surpresas de todos os tempos no mundo dos videogames. O protagonista, que todos pensavam ser homem, era na verdade uma garota. Para a época, em que as garotas não apareciam como heroínas, mas tão somente como ajudantes ou princesas a serem resgatadas, certamente foi algo bem chocante.
A "maldição" de Metroid
O jogo tinha uma jogabilidade incrível e inovadora, e revolucionou o mundo dos videogames. Mas não vendeu bem. Como pode? Simples, é a velha história de estar no "lugar errado, na hora errada", mesmo que o game fosse o mais certo possível. Metroid foi criado para o Famicom Disk System (FDS), um acessório para o console principal. Como o FDS não vingou, o jogo seguiu o mesmo destino. Felizmente, Metroid foi para os Estados Unidos em cartucho, para o NES, e vendeu bem melhor por lá, salvando a franquia de um fim prematuro. Essa foi apenas a primeira vez que a Metroid se deparou com essa terrível maldição.
Um longo período de espera
Yokoi e a sua equipe criaram o Game Boy, um verdadeiro sucesso de vendas. Era natural que eles quisessem que o próximo Metroid fosse para o portátil. Dessa forma, em 1991, 5 anos inteiros após o primeiro jogo da série, surgiu o Metroid II: Return of Samus. O jogo era bem mais linear que o seu predecessor e houveram algumas críticas por isso. Mas um legado foi deixado pelo game: o novo design do traje utilizado por Samus se transformou em referência para os demais jogos da franquia.
Um Super Jogo
Yoshio Sakamoto, um dos principais integrantes do primeiro Metroid, não participou de sua sequência para o Game Boy, mas não sem motivo, pois ele deu início à criação de um dos melhores jogos para um dos melhores consoles de todos os tempos: Super Metroid foi lançado para o Super Nintendo em 1994. O game era incrível e fez tudo que o primeiro Metroid havia feito, só que melhor em todos os sentidos. A crítica especializada adorou, os fãs sabiam que estavam diante de algo excepcional, e o sucesso de vendas… não veio! Lembra da "maldição"? Apesar de o jogo ser excelente, demorou muito tempo na sua criação, e quando foi lançado, o Super Nintendo já estava no seu último fôlego. No Japão, já estavam para ser lançados o Sega Saturn e o Sony PlayStation, e os gamers ainda estavam esperando pelo lançamento do Nintendo 64, tudo isso fez com que o jogo vendesse muito menos do que merecia.
Metroidvania
Em 1996, Gunpei Yokoi faleceu em um acidente de carro e a franquia foi deixada de molho. No novo console da Nintendo, o 64, a única forma de jogar com a Samus era no Super Smash Bros. Durante esse tempo, a Konami aproveitou a fórmula de Metroid e a levou à perfeição, lançando aquele que é considerado o melhor jogo da série Castlevania, o excelente Symphony of The Night (PS, 1997). Esse novo estilo de jogar foi para sempre batizado de "Metroidvania" ou "Castleroid" - junção do nome das duas franquias.
A Retro Studios e a quebra da "maldição"
A Nintendo comprou a Retro Studios e entregou a franquia Metroid para ela criar um jogo para o GameCube. O resultado foi um jogo de tiro em primeira pessoa com exploração não linear, em um mapa gigante, com gráficos 3D: uma verdadeira obra-prima, lançada em 2002, chamada Metroid Prime. As vendas finalmente fizeram jus ao nível de qualidade da série, sendo o segundo jogo mais vendido do GameCube, atrás somente do Super Smash Bros. Melee (2001). Será que Metroid estaria livre para sempre da terrível maldição que lhe assolara até então?
Equipe original
Na mesma data do lançamento de Metroid Prime, em 17 de novembro de 2002, a equipe original, dirigida por Yoshio Sakamoto, lançou Metroid Fusion, para o Game Boy Advance. Uma bem-vinda novidade era a possibilidade de desbloquear conteúdo extra para ambos os games, caso o jogador ligasse o GBA no GameCube. O jogo em si, não foi tão bom quanto Prime, mas foi uma ótima adição à franquia, principalmente em termos de história.
Em 2004, Sakamoto e a R&D1 lançaram Metroid: Zero Mission (GBA), o seu último/primeiro jogo. Explicando melhor, o game se trata de uma recriação do Metroid original, com gráficos melhorados e áreas novas e, após esse último lançamento, a Big N passou por uma reestruturação que levou a equipe a ser desfeita (ninguém foi despedido).
A volta por cima da "maldição"
Metroid Prime 2: Echoes foi lançado em 2004 e seguiu a mesma fórmula de seu primeiro título. A grande novidade era o multiplayer, novidade até então na franquia. A ideia era competir com jogos como Halo: Combat Evolved (Xbox), lançado apenas um ano antes, que provara que o multiplayer forte influenciava diretamente nas vendas. Apesar da boa intenção, Prime 2 pecou por trazer apenas o modo "deathmatch" e sem opção para jogar online.
Para piorar a situação, Halo 2 (Xbox) e Half-Life 2 (PC) foram lançados no mesmo mês. O jogo da Microsoft possuía um multiplayer muito forte e o game da Valve era um excelente FPS. Mesmo com a excelente opinião da crítica, 3 jogos do mesmo estilo de ficção científica para dividir a atenção dos jogadores fizeram Metroid Prime 2 vender muito menos do que a Nintendo esperava. A maldição estava de volta!
No embalo de Metroid
Apesar dos problemas, a série estava embalada, e em 2005 fez a sua estreia no Nintendo DS com um jogo diferente, Metroid Pinball, que como o próprio nome indica, trata-se de um game de pinball, feito por uma thirdy-party, a Fuse Games. Logo em seguida, em 2006, o DS ganha mais um jogo da franquia, Metroid Prime Hunters. Este tratava-se de um jogo de aventura e FPS. A crítica adorou, mais uma vez.
Em 2007, a série chega ao Nintendo Wii com Metroid Prime 3: Corruption. Mais um jogo com notas altas, mas que, como reza a maldição, não vendeu tão bem como se poderia esperar. De fato, gamers mais hardcore preferiram jogos como Halo 3 (X360) e o multiplataforma Call of Duty 4: Moder Warfare. Junto aos jogadores mais casuais, dentro do próprio Wii já havia uma concorrência bem acirrada. Chegava ao fim a participação da Retro Studios na franquia.
Yoshio Sakamoto e os Ninjas
A Nintendo ainda não desistira de Metroid e encarregou um de seus criadores, Yoshi Sakamoto, para tomar a frente de um novo projeto. O produtor resolveu levar o desafio para um third-party, o Team Ninja, conhecido pelas séries Dead or Alive e Ninja Gaiden. As cutscenes, por outro lado, ficaram a cargo de outra third-party, a D-Rockets.
O resultado foi Metroid: Other M (Wii), um jogo de ação e plataforma com tiro em terceira pessoa. Muitos diálogos e narrativa com toneladas de excelentes cutscenes. Além disso, pela primeira vez, Samus teria uma voz. Vários fãs da franquia não gostaram da ideia e o resultado foi percebido nas vendas, que não chegou a 1 milhão de cópias vendidas. Ou talvez fosse apenas a maldição, que assolara a franquia desde o seu lançamento.
Mais de 25 anos de vida
Ao lado de The Legend of Zelda e Mario, podemos colocar Metroid como uma das melhores franquias da Nintendo, talvez não em relação ao número de vendas, mas certamente à qualidade de seus jogos, esta sim, inquestionável. Dito isso, Metroid fez 25 anos em 6 de agosto de 2011 e a Nintendo deixou passar em branco. O motivo: não se sabe ao certo. Talvez seja pelo baixo número de vendas. Mas nós preferimos acreditar que seja uma espécie de contra-feitiço para tentar quebrar a maldição. Torcemos para que funcione e, mais uma vez, sejamos presenteados com um novo e incrível Metroid.
Curiosidades
O nome da personagem principal, Samus Aran, herdou o seu sobrenome graças a um fã de futebol que fazia parte da equipe de produção, e usou o sobrenome de "um tal" de Edson "Arantes", mais conhecido como Pelé.
O nome Metroid veio da combinação Metro e Android. A primeira parte foi porque os movimentos rápidos da heroína pelo subterrâneo eram como pegar o metrô; a segunda parte é porque a armadura deixa o personagem parecido com um android.
Metroid foi baseado no filme Alien, de Ridley Scott, e daí vem o nome de um dos chefões mais famosos da franquia, o Ridley.
"Justin Bailey" é uma famosa senha que permite jogar com quase todos os power-ups e com a Samus usando um biquíni rosa, no lugar do seu traje.
NintendoBlast