Adquiri o álbum anteontem e jáli. A primeira coisa a dizer é quea HQ NÃO é voltada para o público infantil. O estilo me lembrou um pouco o do Robert Crumb (de quem não sou fã), a história traz cenas muito pesadas, cuja arte cartunesca deixa ainda mais perturbadoras.
Aparentemente "Pinóquio" tinha tudo para eu não gostar. Não gosto de HQs ultraviolentas (Não gostei de "Hardboiled" do Frank Miller) nem de gore ou conteúdo pornográfico excessivo/ hardcore. Tem tudo isso em "Pinóquio".
Não gosto desse estilo de arte que parece inspirado em grafites e arte urbana (atualmente presente tanto em HQs quanto em jogos, como o supervalorizado "Super Meat Boy"). A HQ em alguns momentos utilizava bastante esse estilo (assim como também caí para os lados do cartunesco, tipo cartoons e tiras de jornal, ou alternativo estilo "ZAP de Robert Crumb" ou "Fritz the Cat de Robert Crumb". Até as cores da HQ se alternam conforme o momento da HQ, tendo até alguns trechos cuja cor lembra algo como sépia.
Entretanto... gostei da HQ. A narrativa é ótima. Em geral não tem balões de fala, mas tudo é feito de forma tão bem-feita que pode-se acompanhar perfeitamente e entender tudo.
A HQ cumpre algo que li uma vez, em algum lugar, que um dos aspectos da arte é a subversão. Essa HQ realmente subverte e muito o mundo dos contos de fada "versão Disney" e paradoxalmente os aproxima do aspecto sombrio que tinham em suas origens medievais ou do começo da era moderna.
Pinóquio não é um boneco de madeira... ele é um robô para ser usado como arma militar. Gepeto não é engolido por uma baleia e sim por um peixe que sofreu mutação devido a despejo de resíduos radioativos no oceano. O Grilo Falante é substituído por uma barata problemática com anseios de ser escritor chamada Jimmy, e que em momento algum interage diretamente, conversa ou tenta orientar os passos e ações de Pinóquio.
Pinóquio mesmo sendo uma máquina criada para matar acaba sendo o personagem menos deturbado, corrompido ou mal caráter. Ao contrário de sua versão clássica, o Pinóquio Robô não é um mentiroso. Ele sequer fala. Apenas acaba send empurrado de uma situação bizarra para outra, sem pedir por isso, e aparentemente bem alheio a essas situações e as consequências de sua participação nela.
A HQ me pareceu apontar de forma mordaz para o lado podre do mundo atual... consumo de drogas, beliticismo, perda de humanidade por parte das pessoas, problemas familiares e domésticos, incapacidade dos orgãos públicos (como os reformatórios) de cumprir as funções que lhe são atribuídas, luta pelo poder por motivos egocêntricos e egoistas, degradação ambiental, violência urbana, alcoolismo, solidão, depressão e problemas psiquiátricos ou psicológicos, fanatismo religioso e suas consequências, hipocrisia, manipulação pela propaganda para estimular consumo, sentimento de exclusão e de não- pertencimento, as péssimas condições no ambiente e no mundo do trabalho,violência sexual comportamento lascivo... tudo isso está presente na HQ mas de forma que sempre seja possível reconhecer o paralelo com a versão mais conhecida da história.
Os cenários e momentos da história original estão todos presentes: a ilha parque de diversão para onde as crianças mentirosas vão, Gepeto sendo engolido por uma imensa critaura marinha, etc. Conhecer a versão mais usual acrescenta muito na leitura dessa HQ francesa.
Talvez eu tenha gostado porque essas coisas não são colocadas de forma positiva, nem estilo "vamos glorificar o estilo VIDA LOCA de ser"), nem de forma "divertida & euforizada" (como a péssima série de jogos de videogame "GTA" faz...). As coisas são mostradas como são... ruins, destrutivas, sujas. Me lembrou um pouco o livro "As Ligações Perigosas", que expõe e mostra a realidade oculta do mundo corrompido, degradado, degradante e hipócrita da nobreza francesa (de forma mais geral, da própria nobreza européia) da era moderna. Não está se glorificando. Está se metendo o dedo na ferida.
Vale a pena lembrar que a versão de "Pinóquio" do livro escrito pelo autor italiano Carlo Collodi é bem sombria, com elementos de horror, bem diferente da "versão Disney", a mais conhecida (e pior...) versão de "Pinóquio". A HQ francesa parece que pretende se aproximar mais do clima original do livro que do cima mais "light" (alguns diriam hipócrita) tradicional da Disney.
NOTA para "Pinóquio" de Winshluss: 8,0
Última edição por Grau Hut em Qua 03 Out 2012, 14:00, editado 1 vez(es)
Aparentemente "Pinóquio" tinha tudo para eu não gostar. Não gosto de HQs ultraviolentas (Não gostei de "Hardboiled" do Frank Miller) nem de gore ou conteúdo pornográfico excessivo/ hardcore. Tem tudo isso em "Pinóquio".
Não gosto desse estilo de arte que parece inspirado em grafites e arte urbana (atualmente presente tanto em HQs quanto em jogos, como o supervalorizado "Super Meat Boy"). A HQ em alguns momentos utilizava bastante esse estilo (assim como também caí para os lados do cartunesco, tipo cartoons e tiras de jornal, ou alternativo estilo "ZAP de Robert Crumb" ou "Fritz the Cat de Robert Crumb". Até as cores da HQ se alternam conforme o momento da HQ, tendo até alguns trechos cuja cor lembra algo como sépia.
Entretanto... gostei da HQ. A narrativa é ótima. Em geral não tem balões de fala, mas tudo é feito de forma tão bem-feita que pode-se acompanhar perfeitamente e entender tudo.
A HQ cumpre algo que li uma vez, em algum lugar, que um dos aspectos da arte é a subversão. Essa HQ realmente subverte e muito o mundo dos contos de fada "versão Disney" e paradoxalmente os aproxima do aspecto sombrio que tinham em suas origens medievais ou do começo da era moderna.
Pinóquio não é um boneco de madeira... ele é um robô para ser usado como arma militar. Gepeto não é engolido por uma baleia e sim por um peixe que sofreu mutação devido a despejo de resíduos radioativos no oceano. O Grilo Falante é substituído por uma barata problemática com anseios de ser escritor chamada Jimmy, e que em momento algum interage diretamente, conversa ou tenta orientar os passos e ações de Pinóquio.
Pinóquio mesmo sendo uma máquina criada para matar acaba sendo o personagem menos deturbado, corrompido ou mal caráter. Ao contrário de sua versão clássica, o Pinóquio Robô não é um mentiroso. Ele sequer fala. Apenas acaba send empurrado de uma situação bizarra para outra, sem pedir por isso, e aparentemente bem alheio a essas situações e as consequências de sua participação nela.
A HQ me pareceu apontar de forma mordaz para o lado podre do mundo atual... consumo de drogas, beliticismo, perda de humanidade por parte das pessoas, problemas familiares e domésticos, incapacidade dos orgãos públicos (como os reformatórios) de cumprir as funções que lhe são atribuídas, luta pelo poder por motivos egocêntricos e egoistas, degradação ambiental, violência urbana, alcoolismo, solidão, depressão e problemas psiquiátricos ou psicológicos, fanatismo religioso e suas consequências, hipocrisia, manipulação pela propaganda para estimular consumo, sentimento de exclusão e de não- pertencimento, as péssimas condições no ambiente e no mundo do trabalho,violência sexual comportamento lascivo... tudo isso está presente na HQ mas de forma que sempre seja possível reconhecer o paralelo com a versão mais conhecida da história.
Os cenários e momentos da história original estão todos presentes: a ilha parque de diversão para onde as crianças mentirosas vão, Gepeto sendo engolido por uma imensa critaura marinha, etc. Conhecer a versão mais usual acrescenta muito na leitura dessa HQ francesa.
Talvez eu tenha gostado porque essas coisas não são colocadas de forma positiva, nem estilo "vamos glorificar o estilo VIDA LOCA de ser"), nem de forma "divertida & euforizada" (como a péssima série de jogos de videogame "GTA" faz...). As coisas são mostradas como são... ruins, destrutivas, sujas. Me lembrou um pouco o livro "As Ligações Perigosas", que expõe e mostra a realidade oculta do mundo corrompido, degradado, degradante e hipócrita da nobreza francesa (de forma mais geral, da própria nobreza européia) da era moderna. Não está se glorificando. Está se metendo o dedo na ferida.
Vale a pena lembrar que a versão de "Pinóquio" do livro escrito pelo autor italiano Carlo Collodi é bem sombria, com elementos de horror, bem diferente da "versão Disney", a mais conhecida (e pior...) versão de "Pinóquio". A HQ francesa parece que pretende se aproximar mais do clima original do livro que do cima mais "light" (alguns diriam hipócrita) tradicional da Disney.
NOTA para "Pinóquio" de Winshluss: 8,0
Última edição por Grau Hut em Qua 03 Out 2012, 14:00, editado 1 vez(es)