Há 20 anos, Nirvana fazia "pior show" da carreira no Hollywood Rock do grunge
Em novembro de 1992 os fãs brasileiros de rock ganhavam uma boa notícia: a confirmação de que o Nirvana viria ao Brasil, pela primeira vez, dali a dois meses. O grupo de Kurt Cobain, Dave Grohl e Krist Novoselic, principal nome da tão comentada cena grunge de Seattle, acabava de ser confirmado para o Hollywood Rock e faria, em São Paulo, seu primeiro show em três meses. O público, então acostumado a atrações internacionais defasadas, finalmente veria uma banda nova e em pleno auge.
Mais do que ver de perto o Nirvana, os fãs ainda teriam chance de assistir a Alice in Chains, L7 e Red Hot Chili Peppers --a nata do rock alternativo do momento-- no mesmo festival. O Hollywood Rock de 1993, em sua edição mais famosa, aconteceu nos dias 15, 16 e 17 de janeiro daquele ano --com ingressos que variavam entre 140 mil e 220 mil cruzeiros, algo em torno de R$ 50 e R$ 80--, e uma semana depois no Rio de Janeiro.
E foi no estádio Morumbi, há exatos 20 anos, que o Nirvana fez um dos shows mais lendários, surreais e emblemáticos de sua curta carreira de cinco anos. Frente a cerca de "110 mil pessoas e a maior multidão para a qual o Nirvana já tocou, tanto a equipe como a banda se lembram dele como a pior apresentação que já haviam feito", segundo relatou Charles R. Cross na biografia de Kurt Cobain, "Mais Pesado que o Céu".
A versão lenta e barulhenta de "School", faixa do primeiro álbum do trio, foi a partida inicial para uma apresentação embalada por baderna e confusão. E, há quem diga, divertida. O repertório de mais de 30 músicas veio com versões absurdas de Iron Maiden, Duran Duran, Queen e The Clash, além de material dos discos "Bleach" (1989), "Nevermind" (1991) e do então inédito "In Utero" (1993).
De tudo se viu naquele palco. O clássico solo de "Smells Like Teen Spirit" foi trocado pelo trompete de Flea, baixista dos Chili Peppers, que entrou de surpresa no palco. No meio do show, Krist saiu de cena. Mas, como o contrato previa no mínimo 45 minutos de apresentação para que o cachê fosse pago, ele precisou ser encontrado e obrigado a retornar ao show. Krist pegou seu baixo e voltou a tocar sem qualquer preocupação com a afinação. Logo depois, após uma versão de "Run to the Hills" do Iron Maiden, foi Kurt quem surtou e começou a destruir sua guitarra. Parte da Fender Stratocaster preta foi parar nas mãos do estudante de 20 anos Alexandre Neves, que assistia a tudo grudado na grade.
O trio ainda inovaria em sua formação: com Dave no baixo, Krist na guitarra e Kurt na bateria, a banda passou a tocar covers inusitados e completamente sem sentido. Esporadicamente, Kurt estraçalhava um alto-falante do palco ou uma guitarra --em "Scentless Apprentice", foi a vez de uma Fender Telecaster azul. Naquele momento, Krist e Dave já não estavam mais no palco, e Kurt tinha apenas a companhia de sua mulher, Courtney Love, ajudando na quebradeira e o arrastando dali na sequência. Antes mesmo de acabar o show, grande parte do público já havia debandado do Morumbi.
Entrevistado no dia seguinte pelo jornal "Folha de S.Paulo", Krist disse que aquele "foi um show de desconstrução de imagem do grupo". No livro de Charles R. Cross, o autor revela que Kurt havia misturado "bolinhas com bebida alcoólica, o que o deixou lutando para encontrar um acorde". À revista "Rolling Stone Brasil", de março de 2012, Dave Grohl fez uma comparação curiosa: "É bonitinho quando uma menina de 3 anos coloca um par de sapatos de salto. Mas eles não servem. Ela tropeça, fica esquisito. E, de certa forma, era mais ou menos desse jeito quando fomos ao Brasil."
O Nirvana ainda tocou na versão carioca do Hollywood Rock, no dia 23 daquele mesmo janeiro. Na Praça da Apoteose, o trio fez uma apresentação mais técnica, seguindo setlist previsto, mas também deixou sua marca no evento. Cobain chegou a cuspir na câmera que transmitia o show pela televisão, brincou de se masturbar e ironizou a marca de cigarro patrocinadora. Rolou cover de "Sweet Emotion" do Aerosmith, e novo solo de trompete de Flea em "Smells Like Teen Spirit". Partes deste show, exibido pela Rede Globo, integram o registro ao vivo da banda "Live! Tonight! Sold Out!!, lançado em VHS em 1994 e em DVD em 2006.
O show do Nirvana no Morumbi, no entanto, é um objeto de desejo dos fãs de toda parte do mundo. Em tempos quando não havia smartphone e que câmeras portáteis não eram tão acessíveis, pouco registro se tem daquela apresentação. Alguns vídeos circulam pela internet com trechos de diversos ângulos e qualidades. No vídeo abaixo, disponibilizado no YouTube e replicado por vários usuários, se vê quase 20 minutos do que foi aquele momento marcante para a história do Nirvana e dos fãs de rock.
Na época, uma pesquisa do Datafolha registrou a opinião do público do festival e 71% dos entrevistados classificaram o show do Nirvana entre bom e ótimo. Para 37%, a banda foi a melhor daquela noite, enquanto a maioria (39%) preferiu o L7.
Abaixo, personalidades que estavam naquele dia relembram a pedido do UOL a passagem da banda pelo festival --e fora dele. Da chegada no aeroporto aos bastidores e festas pós-show, veja os depoimentos de João Gordo (vocalista do Ratos de Porão), Zeca Camargo (apresentador do "Fantástico", que na época trabalhava na MTV), Andreas Kisser (guitarrista do Sepultura que acompanhava os integrantes do Alice In Chains), Pablo Miyazawa (editor-chefe da revista "Rolling Stone Brasil") e Andria Busic (vocalista do Dr. Sin).
Leia Mais em: http://musica.uol.com.br/noticias/redacao/2013/01/16/ha-20-anos-nirvana-fazia-em-sao-paulo-show-mais-surreal-e-emblematico-da-carreira.htm
Em novembro de 1992 os fãs brasileiros de rock ganhavam uma boa notícia: a confirmação de que o Nirvana viria ao Brasil, pela primeira vez, dali a dois meses. O grupo de Kurt Cobain, Dave Grohl e Krist Novoselic, principal nome da tão comentada cena grunge de Seattle, acabava de ser confirmado para o Hollywood Rock e faria, em São Paulo, seu primeiro show em três meses. O público, então acostumado a atrações internacionais defasadas, finalmente veria uma banda nova e em pleno auge.
Mais do que ver de perto o Nirvana, os fãs ainda teriam chance de assistir a Alice in Chains, L7 e Red Hot Chili Peppers --a nata do rock alternativo do momento-- no mesmo festival. O Hollywood Rock de 1993, em sua edição mais famosa, aconteceu nos dias 15, 16 e 17 de janeiro daquele ano --com ingressos que variavam entre 140 mil e 220 mil cruzeiros, algo em torno de R$ 50 e R$ 80--, e uma semana depois no Rio de Janeiro.
E foi no estádio Morumbi, há exatos 20 anos, que o Nirvana fez um dos shows mais lendários, surreais e emblemáticos de sua curta carreira de cinco anos. Frente a cerca de "110 mil pessoas e a maior multidão para a qual o Nirvana já tocou, tanto a equipe como a banda se lembram dele como a pior apresentação que já haviam feito", segundo relatou Charles R. Cross na biografia de Kurt Cobain, "Mais Pesado que o Céu".
A versão lenta e barulhenta de "School", faixa do primeiro álbum do trio, foi a partida inicial para uma apresentação embalada por baderna e confusão. E, há quem diga, divertida. O repertório de mais de 30 músicas veio com versões absurdas de Iron Maiden, Duran Duran, Queen e The Clash, além de material dos discos "Bleach" (1989), "Nevermind" (1991) e do então inédito "In Utero" (1993).
De tudo se viu naquele palco. O clássico solo de "Smells Like Teen Spirit" foi trocado pelo trompete de Flea, baixista dos Chili Peppers, que entrou de surpresa no palco. No meio do show, Krist saiu de cena. Mas, como o contrato previa no mínimo 45 minutos de apresentação para que o cachê fosse pago, ele precisou ser encontrado e obrigado a retornar ao show. Krist pegou seu baixo e voltou a tocar sem qualquer preocupação com a afinação. Logo depois, após uma versão de "Run to the Hills" do Iron Maiden, foi Kurt quem surtou e começou a destruir sua guitarra. Parte da Fender Stratocaster preta foi parar nas mãos do estudante de 20 anos Alexandre Neves, que assistia a tudo grudado na grade.
O trio ainda inovaria em sua formação: com Dave no baixo, Krist na guitarra e Kurt na bateria, a banda passou a tocar covers inusitados e completamente sem sentido. Esporadicamente, Kurt estraçalhava um alto-falante do palco ou uma guitarra --em "Scentless Apprentice", foi a vez de uma Fender Telecaster azul. Naquele momento, Krist e Dave já não estavam mais no palco, e Kurt tinha apenas a companhia de sua mulher, Courtney Love, ajudando na quebradeira e o arrastando dali na sequência. Antes mesmo de acabar o show, grande parte do público já havia debandado do Morumbi.
Entrevistado no dia seguinte pelo jornal "Folha de S.Paulo", Krist disse que aquele "foi um show de desconstrução de imagem do grupo". No livro de Charles R. Cross, o autor revela que Kurt havia misturado "bolinhas com bebida alcoólica, o que o deixou lutando para encontrar um acorde". À revista "Rolling Stone Brasil", de março de 2012, Dave Grohl fez uma comparação curiosa: "É bonitinho quando uma menina de 3 anos coloca um par de sapatos de salto. Mas eles não servem. Ela tropeça, fica esquisito. E, de certa forma, era mais ou menos desse jeito quando fomos ao Brasil."
O Nirvana ainda tocou na versão carioca do Hollywood Rock, no dia 23 daquele mesmo janeiro. Na Praça da Apoteose, o trio fez uma apresentação mais técnica, seguindo setlist previsto, mas também deixou sua marca no evento. Cobain chegou a cuspir na câmera que transmitia o show pela televisão, brincou de se masturbar e ironizou a marca de cigarro patrocinadora. Rolou cover de "Sweet Emotion" do Aerosmith, e novo solo de trompete de Flea em "Smells Like Teen Spirit". Partes deste show, exibido pela Rede Globo, integram o registro ao vivo da banda "Live! Tonight! Sold Out!!, lançado em VHS em 1994 e em DVD em 2006.
O show do Nirvana no Morumbi, no entanto, é um objeto de desejo dos fãs de toda parte do mundo. Em tempos quando não havia smartphone e que câmeras portáteis não eram tão acessíveis, pouco registro se tem daquela apresentação. Alguns vídeos circulam pela internet com trechos de diversos ângulos e qualidades. No vídeo abaixo, disponibilizado no YouTube e replicado por vários usuários, se vê quase 20 minutos do que foi aquele momento marcante para a história do Nirvana e dos fãs de rock.
Na época, uma pesquisa do Datafolha registrou a opinião do público do festival e 71% dos entrevistados classificaram o show do Nirvana entre bom e ótimo. Para 37%, a banda foi a melhor daquela noite, enquanto a maioria (39%) preferiu o L7.
Abaixo, personalidades que estavam naquele dia relembram a pedido do UOL a passagem da banda pelo festival --e fora dele. Da chegada no aeroporto aos bastidores e festas pós-show, veja os depoimentos de João Gordo (vocalista do Ratos de Porão), Zeca Camargo (apresentador do "Fantástico", que na época trabalhava na MTV), Andreas Kisser (guitarrista do Sepultura que acompanhava os integrantes do Alice In Chains), Pablo Miyazawa (editor-chefe da revista "Rolling Stone Brasil") e Andria Busic (vocalista do Dr. Sin).
Leia Mais em: http://musica.uol.com.br/noticias/redacao/2013/01/16/ha-20-anos-nirvana-fazia-em-sao-paulo-show-mais-surreal-e-emblematico-da-carreira.htm