Há uns 10 anos atrás, quando eu ainda estava na faculdade e nem imaginava que aquela era a melhor época da minha vida, os EUA atacaram e ocuparam tanto o Afeganistão quanto o Iraque.
O ataque ao Iraque foi ainda mais criticado, inclusive por norte- americanos ( Susan Sarandon e Danny Glover eram alguns dos cabeças de um movimento que questionava "O que o Iraque fez para ser atacado/ Nada!"). O governo dos EUA como sempre veio com a justificativa de armas biológicas, nucleres, perigo para a segurança do mundo, etc.... em uma reunião da ONU o então secretário Collin Powell apresentou "provas" de que o Iraque possuía essas armas ( conferir em http://www.publico.pt/mundo/noticia/colin-powell-avisa-que-iraque-podera-utilizar-armas-quimicas-287474 ou http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI85363-EI865,00-Discurso+de+Powell+mantem+divisao+na+ONU.html ), sendo o detalhe grotesco que ninguém lembra o de que Collin Powell levou um frasco de antraz para a reunião e usou como argumento de que um mero frasco como aquele podia matar todos na sala...e de onde ele tirou aquela amostra de arma química? Pediu um pouquinho para o Iraque?
Na época, aqui no Brasil, a posição da maioria das pessoas foi contra os EUA e contra a invasão e posterior ocupação do Iraque pelos EUA. Com exceção de alguns radicais, ninguém estava defendendo a ditadura de Saddam Hussein, nem defendendo o próprio ditador ou fazendo vista grossa para os erros e crimes dele. O que se dizia é que os EUA eram movidos por motivos geo-econômicos e geo-políticos e que nada que os EUA argumentavam serviam de justificativa para a agressão, inclusive o polêmico argumento do "ataque preventivo". Também se questionava o que mudaria para melhor na vida das pessoas sob ocupação norte- americana, e nisso não preciso falar muito... a situação tanto no Afeganistão ocupado quanto no Iraque ocupado são péssimas para o povo em geral e ótimas para as grandes empresas norte- americanas ( conferir o livro "A Doutrina de Choque- A Ascenção do Capitalismo de Desastre", de Naomi Klein).
Na época a modinha anti-esquerda ainda não estava em voga como está hoje, houve mais vozes críticas e dissonantes contra as ações norte- americanas, enquanto hoje as pessoas simplesmente parecem não perceber que os EUA usam os mesmos argumentos ("América in danger!"... os EUA correm perigo de serem atacados! Armas de destruição em massa!) para justificar aquilo que seria mais uma invasão e ocupação motivada por questões geo-políticas e geo- econômicas... não é curioso que sempre em momentos de crise econômica os EUA precisam atacar algum país para defender a liberdade, democracia,etc? Curiosa coincidência, não?
A quantidade de paralelos entre as situações é grande, mas está passando despercebida:a) um aliado correndo perigo- no caso atual, Coréia do Sul; no caso do Afeganistão, o Paquistão; no caso do Iraque, o Kuwait e demais países- fantoches da região que vendem petróleo em condições vantajosas para os EUA. b) Um ditador louco e perigoso, com armas que podem destruir a tudo e a todos (no Iraque, Sadam Hussein, na Coréia do Norte, Kim Jong-un; c) Propaganda de "pobre povo oprimido por ditador e que precisa de nós para levar a liberdade e democracia", a qual não menciona que os EUA apoiam outros ditadores e não movem um dedo para ajudar o pobre povo oprimido pelo ditador de Omã, o qual tomou o poder em um golpe que tirou do poder o presidente democraticamente eleito, mas que queria rever acordos e lançar uma política nacionalista não favorável aos EUA.
O grande lance dos movimentos sociais não é apoiar a ditadura da Coréia do Norte, assim como não o foi apoiar a ditadura iraquiana ou o governo autoritário dos talibãs no Afeganistão. É se opôr as ações agressivas dos EUA, que usam justificativas de auto-defesa, liberdade e democracia para encobrir os motivos econômicos mais mundanos e objetivos geo-políticos menos aparentes. Como assim? Bem, com a Coréia do Norte ocupada (NÃO unificada com a Coréia do Sul, porque aí se teria uma potência regional muito forte e capaz de ter mais capacidade de manobra nas negociações com os EUA), os EUA estariam cercando mais um pouco a China, isolando mais um pouco a China e criando um cordão de isolamento para proteger seu mais tradicional aliado na região, o Japão, o qual volta e meia sofre pressão chinesa.
Isso sem contar que seria um lugar a mais para reconstruir e ajudar as empresas norte-americanas. Um lugar a mais para o capitalismo de desastre.
E as declarações, vídeos e correlatos da Coréia do Norte? Eles não estão provocando isso, essa situação?
NÃO. Qualquer um com o mínimo de bom senso sabe que a Coréia do Norte não é páreo para um oponente de calibre alto. Os vídeos, declarações e manobras militares não são ameaças para o exterior. Não se dirigem ao campo externo.
São propaganda para o interior. Se dirigem para o campo interno, como forma de fortalecer a imagem do governo perante os próprios norte-coreanos, passando a imagem de que o líder, apesar de jovem, é corajoso e está disposto a ir até o fim em defesa da Coréia do Norte. Saddam Hussein fazia esse tipo de coisa também (em especial desfiles militares) e os talibãs também fizeram desfile militar com seus pífios armamentos. era para ameaçar os EUA? Não... isso seria uma piada. É voltado para o público interno.
Outra motivação da Coréia do Norte eu já falei aqui, em outro post: armas assim, atômicas ou nucleares, NÃO são para serem usadas. São instrumento de barganha, para aumentar sua força e te dar mais voz nas negociações externas e assim conseguir acordos mais favoráveis ou incentivos econômicos. É a chance que a Coréia do Norte vê para ser algo mais no cenário internacional do que o "Robin", o parceiro fracote, da dupla que ela faz com a China.
Não apoio nenhuma forma de ataque ou retaliação norte- americana à Coréia do Norte (seja militar, política ou econômica), assim como não apoio as ações da França no Mali atualmente, em especial porque essas ações servem em especial aos interesses dessas potências do G-7 e pouco, ou nada, servirão ao povo do país atacado. aliás não apoio tais ações de norte- americanos e franceses em país nenhum. Não concordo com as políticas externas do Obama, que só tem pose de bom rapaz e nada mais. ele está agindo de forma bem similar ao w. Bush, mas como é mais carismático e popular, está recebendo um apoio internacional maior.
Será que se fosse o W. Bush a estar nessa situação com a Coréia do Norte a posição da opinião pública seria tão favorável aos EUA assim?