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Michel Maffesoli:‘Vejo esses movimentos como Maios de 68 pós-modernos’


Para pensador francês, as manifestações que ocorrem atualmente no Brasil são exemplos de subversões nascidas da espontaneidade emocional em rejeição à política moderna racional programática

PARIS - Com mais de 20 obras publicadas no Brasil — como “A transfiguração do político” e “A dinâmica da violência” —, o sociólogo Michel Maffesoli vê o país como um “laboratório” no fim dos tempos modernos e diz não ter sido surpreendido com a eclosão das manifestações em diversas cidades brasileiras. Conhecedor do Brasil, para onde viaja há mais de 30 anos para conferências e intercâmbios intelectuais, Maffesoli disse que vai “dar uma passada” na manifestação de brasileiros que ocorrerá no fim da tarde de hoje, em Paris, em solidariedade ao movimento. Na sua opinião, manifestações como as do Brasil e da Turquia podem ser vistas como “Maios de 68 pós-modernos”, de curta duração, mas com marcas indeléveis.

Como o senhor analisa estes movimentos no Brasil?

É um bom exemplo destas sublevações pós-modernas que se desenvolvem em vários lugares. É uma revolta bastante disseminada, que não se origina de um projeto político preciso e programático, mas, ao contrário, propaga-se como um fogo rápido a partir de um pequeno pretexto, como R$ 0,20 de aumento da passagem de ônibus. É algo que pode ser comparado com o exemplo turco, onde a partir de algo anódino — construir algo ou não num parque — se criou uma sublevação que se alastrou. Vivemos o fim de uma época, e umas das manifestações disso é que algo cotidiano suscita um movimento que questiona o sistema.

Para o senhor, é o fim de um modo de se fazer política?

É o fim da política moderna. Tive como professor na França o sociólogo Julien Freund (1921-1993), também conhecido no Brasil, que dizia que o político é a ideia de um projeto, de um programa, da dimensão racional, seja de esquerda ou de direita. O objetivo programático é mobilizar energias para alcançar o fim desejado. Era a grande ideia marxista dos sistemas socialistas do século XIX, das políticas conservadoras etc. Vemos que há uma saturação, um tipo de indiferença, esses jovens não se reconhecem mais num programa, num partido ou sindicato. Não é mais programático, mas, sim, emocional. A modernidade é racional, e a pós-modernidade é emocional. Com o que ocorre no Brasil temos uma boa ilustração disso.

O senhor se surpreendeu pelo fato de essas manifestações ocorrerem agora no Brasil?

Vejo o Brasil como um laboratório da pós-modernidade. Algo assim não vejo ocorrer na França, onde espírito, clima e intelligentsia permanecem muito racionais. Não vejo surpresa neste tipo de explosão, forte, mesmo brutal, num país como o Brasil.

Não se trata de revolução. Como o senhor definiria este movimento?

A palavra “revolução” significa uma ruptura. Etimologicamente significa “revolvere” em latim, voltar a coisas que acreditávamos superadas. Não é uma revolução no sentido moderno do termo, como ruptura. Mas no sentido etimológico vemos voltar essa ideia de fraternidade, de estar juntos, das tribos. Por isso o Brasil é um país importante, porque vejo que resta essa velha ideia, que vem das culturas ancestrais, de comunidade, de solidariedade de base. Vejo uma espécie de ilustração da minha teoria de tribos urbanas. E, quando há um tal ajuntamento, os políticos ficam perdidos, desamparados, porque ultrapassa suas categorias, que permanecem programáticas. Vemos uma sublevação, um tsunami das tribos urbanas.
As redes sociais também têm um papel importante nessas sublevações...
Brinco dizendo que neste caso não se deve mais fazer sociologia, mas epidemiologia, pois é algo viral. É a sinergia do arcaico com o desenvolvimento tecnológico. Arcaico são as tribos; desenvolvimento tecnológico, a internet. Há mobilidade graças às redes sociais. As tribos urbanas se tornam comunidades interativas. Há essa expressão em inglês, “flash mob” (abreviação de flash mobilization, movimentação relâmpago). De repente surge uma mobilização que desampara as instituições. Como não é programático, há o risco de murchar como um suflê, de forma rápida. Mas é algo que deixa marcas.

O movimento pode degenerar?

Não se faz omelete sem quebrar ovos. Não podemos atuar como moralistas. Mesmo que os participantes se manifestem contra a violência, é algo que não é controlável. Não se pode prever, mas é quase certo que haverá algum dano. Está na natureza humana, quando ocorre algo que quebra a ordem das coisas é certo que haverá desvios.

Como compara o que ocorre no Brasil com outros países? Teria alguma relação com Maio de 68?

Não se pode comparar com a Primavera Árabe, a não ser pelo uso de tecnologias e redes sociais. Acho que é mais comparável com a Turquia. Vejo esses movimentos como Maios de 68 pós-modernos: emoção coletiva, que provoca o contágio e se alastra de forma incontrolável. Poderá secar, mas com um verdadeiro corte, e o depois não poderá ser como o antes.

FONTE: http://oglobo.globo.com/pais/michel-maffesolivejo-esses-movimentos-como-maios-de-68-pos-modernos-8786658

Última edição por Grau Hut em Qua 26 Jun 2013, 12:41, editado 2 vez(es)

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Grau, alguns dos seus posts são bem interessantes mas tem uns walls muito tensos que não dá pra ler, principalmente porque grande parte das vezes que eu acesso o fórum é do serviço.

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VRebuli escreveu:
Grau, alguns dos seus posts são bem interessantes mas tem uns walls muito tensos que não dá pra ler, principalmente porque grande parte das vezes que eu acesso o fórum é do serviço.


Desculpe, cara. Você acha que seria mais jogo fazer um "resumo" de uma notícia assim e em seguida colocar o link para o pessoal ter acesso ao texto todo? De repente fica visualmente menos poluído.

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Grau Hut escreveu:
VRebuli escreveu:
Grau, alguns dos seus posts são bem interessantes mas tem uns walls muito tensos que não dá pra ler, principalmente porque grande parte das vezes que eu acesso o fórum é do serviço.


Desculpe, cara. Você acha que seria mais jogo fazer um "resumo" de uma notícia assim e em seguida colocar o link para o pessoal ter acesso ao texto todo? De repente fica visualmente menos poluído.


Relaxa, manolo, não precisa pedir desculpas. Pra quem tem tempo algumas leituras dessas são bem construtivas. Facilitaria um pouco pra galera em geral se vc postasse aqui só as partes mais relevantes pro assunto que vc quer debater e deixa o link da matéria completa pra quem quiser dar uma lida melhor.

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Vou ler com calma Grau!

Ah, ontem pensei numa tirinha por causa do Grau, mas uma hora pego pra desenhar. Só não quero que ninguém se ofenda, até pq eu não me considero nem de esquerda e nem de direita, não sei o que sou(talvez isso me deixe um patamar abaixo para discussões políticas?).

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Henrico D. Santo escreveu:
eu não me considero nem de esquerda e nem de direita, não sei o que sou(talvez isso me deixe um patamar abaixo para discussões políticas?).


não, até porque o espectro político é muito variado.

a grosso modo poderíamos colocar esse espectro político como algo assim (Os exemplos são os que primeiro me vieram a cabeça. Não são a única forma possível!)

Extrema- Esquerda (stalinistas; anarco- punks)  ---- Esquerda (socialistas, comunistas, anarquistas como anarco-sindicalistas) ---- Esquerda moderada (Esquerda democrática, sociais- democratas DE VERDADE, Internacionalistas) --- Centro- esquerda (nacionalistas de esquerda)---- Centro (trabalhistas- embora o trabalhismo pode pender para centro-esquerda, ou centro-direita, dependendo do movimento) --- centro- direita (democracia cristã)  ----  Direita moderada (democratas representativos clássicos) ---- direita (liberal democrata/ liberal social, neoliberais) ---- Extrema- Direita (militaristas, nazistas e neonazistas, fascistas)

Logicamente dentro da própria designação, os grupos tem diferenças. O Partido Democrata dos EUA seria, na minha opinião, liberal democrata/ liberal social. O Partido Republicano seria neoliberal (ou neoconservador, como alguns chamam). ambos são DIREITA, mas um não é igual ao outro.

Fora isso, eu acho difícil alguém ser 100% esquerda ou 100% conservador.

Eu por exemplo, me considero esquerda moderada ( sou a favor de democracia participativa e social, sou contra a ideia de "Estado mínimo" e sair privatizando tudo, etc), mas tem aspectos em mim comumente apontados como mais conservadores: não apoio casamento homossexual (acho isso pós-modernice, pois uma das características mais fortes da pós- modernidade é tentar apagar categorias e colocar tudo no mesmo bolo), sendo que acho que se for reconhecida união estável (que não é casamento) para um casal homossexual está de bom tamanho; sou contra adoção de crianças por casais homossexuais; sou contra legalização de drogas, como a maconha, SALVO PARA USO MEDICINAL (em caso medicinal eu não vejo problemas, desde que feito de forma controlada, com ordens e acompanhamento médico); só sou favorável ao aborto em caso de estupro ou em caso clínicos extremos (um bebê sem cérebro, por exemplo).

A questão é que eu não me oponho aos indivíduos e grupos que defendam essas posições, nem me oponho a ouvir (ou ler) os argumentos e posições deles, desde que eles estejam abertos a ouvir críticas e réplicas de forma madura, o que em geral não ocorre... os movimentos GLBTS, por exemplo, quando são contrariados já começam a gritar "homofobia! homofobia!", e acusam quem não concorda integralmente com eles de moralista, conservador, tradicional, machista, patriarcal, etc. Em um blog sobre questões sociais que estava lendo uma vez vi uma situação interessante: em um texto a dona do blog declarou que "não é a favor dos homossexuais, mas também não é contra". imediatamente apareceu como primeiro comentário uma pessoa falando "se você não é a favor dos homossexuais, você é contra os homossexuais".
o que é isso? Parece o Bush falando que se você não apoia os EUA atacarem o Iraque ou Afeganistão, você está contra os EUA! O caso do comentarista do blog poderia ser classificado como "Bushismo rosa' ou "Pink bushismo"?

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Henrico D. Santo escreveu:
Vou ler com calma Grau!

Ah, ontem pensei numa tirinha por causa do Grau, mas uma hora pego pra desenhar. Só não quero que ninguém se ofenda.


Poxa, desenha e posta aí. Charges políticas são sempre bem- vindas. Sorriso

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Grau, você colocou o anarquismo ali na esquerda, mas não tem uma nova onda ai que seria meio que uma "anarco-direita"? Ou seja, liberalismo tal a ponto de não a haver nem o estado mínimo? Ou to falando besteira?

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Dopefish escreveu:
Grau, você colocou o anarquismo ali na esquerda, mas não tem uma nova onda ai que seria meio que uma "anarco-direita"? Ou seja, liberalismo tal a ponto de não a haver nem o estado mínimo? Ou to falando besteira?


Não está falando besteira de forma alguma! Tem sim! Eles se intitulam "libertários" (o que causa confusão porque é uma das definições que os anarquistas de esquerda e anarquistas históricos usavam para se referir a sí mesmos).

Esse pessoal usa como base as ideias neoliberais de Milton Friedmann, em especial o livro "Capitalismo e Liberdade". Volta e meia são chamados de libertarianismo, anarco-capitalistas, anarco- capitalismo, anarquismo de livre mercado, etc.
A questão principal é que eles postulam uma oposição total ao controle, intervenção, regulação ou  participação do estado na economia.
Usam como suas cores-símbolo o preto (cor-símbolo do anarquismo) e o amarelo. O site deles aqui no Brasil é esse: http://libertarios.org.br/liber

O foco deles é econômico, de combate a intervenções, tarifas alfandegárias e protecionismo e a favor livre mercado total. Não tem preocupações sociais como igualdade social, etc- inclusive eles defendem o fim das leis trabalhistas (como a CLT), advogando que tudo deve ser feito em acordos entre patrões e empregados. Fora isso defendem também que o neoliberalismo e a liberdade total de mercado combaterá o desemprego, desde que os empregados e trabalhadores aceitem flexibilizações drásticas nas condições de trabalho e salários menores.

Outro problema é que eles costumam se apropriar de ideias de autores e dizer que eles são autores libertarianistas, como por exemplo eles defenderem a desobediência civil formulada pelo Thoreau. Vale a pena lembrar que Thoreau serviu de inspiração para vários movimentos, como o anarquismo "de esquerda", os ecologistas, os primitivistas e mesmo para Mahatma Ghandi e sua oposição não- violenta.

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