Realmente a esquerda em 1964 era tão fraca, e o país tão longe de um golpe comunista, que nesse vídeo vemos a fraqueza da esquerda num discurso onde o PRESIDENTE DA REPÚBLICA da época afirma que vai tomar a propriedade privada e distribuir ao "povo".
VRebuli,
Dessa vez terei que discordar veementemente.
Jango não era comunista/socialista. Jango era de outra vertente política, era nacionalista, e não opositor ao capitalismo.
Ocorre que Jango queria estatizar indústrias e promover a reforma agrária. Eu, pessoalmente, acredito que eram passos importantes para o país naquela época.
Acredito que essas políticas desagradavam aos interesses das elites estrangeiras e brasileiras. Estatizar petrolíferas, em particular, desagradou os EUA. O envolvimento dos EUA com as ditaduras na America do Sul de forma geral já é de conhecimento público.
Por tudo isso, acho muito, muito injusto colocar Jango no mesmo patamar de Maduro, Chaves ou Fidel.
Depois de 21 anos no poder, os militares deixaram uma terrível herança:
Não houve reforma agrária (devemos lembrar como se deu a propriedade privada de terras em larga escala na formação do nosso país – nascemos como colônia de exploração. Não houve “trabalho duro para aquisição de terras”);
Hoje, temos uma das gasolinas mais caras do mundo. Exportamos petróleo e importamos gasolina;
Surgiu o crime organizado no sistema prisional que misturava criminosos políticos com criminosos comuns;
Outro reflexo é a que a ditadura deu uma “bandeira”, um inimigo comum à esquerda brasileira, dos anos sessenta até os dias atuais. Passa-se a imagem que SOMENTE a esquerda combateu a ditadura. Que a nossa esquerda é “heroica e valente”, aumentando cada vez mais o seu número de simpatizantes. Ou seja, propagando falsamente o combate ao Comunismo, os militares acabaram por criar uma esquerda no Brasil.
Enfim, acredito que as politicas de Jango seriam MUITO, muito mais benéficas ao país do que os 21 anos de ditadura militar.
Mas, isso é só o que eu acredito. Pode-se dizer que é uma face da verdade ou a mentira que eu escolhi acreditar. A discussão nos leva a “arranhar” a verdade, mas ninguém a detêm.
Não houve reforma agrária (devemos lembrar como se deu a propriedade privada de terras em larga escala na formação do nosso país – nascemos como colônia de exploração. Não houve “trabalho duro para aquisição de terras”);
Me diga quem, em sã consciência, atravessa o atlântico, funda cidades em uma terra de tamanhos continentais "apenas para exploração"? Ah, e depois ainda se torna parte do "Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves". E me indique também uma nação que não tenha suas fronteiras como são hoje devido a tomada de terras, conflitos e imposição de interesses. Só uma.
Independente da resposta, isso não invalida em nenhuma hipótese a propriedade privada. Não existe essa coisa de "dívida histórica".
Leinad escreveu:
Hoje, temos uma das gasolinas mais caras do mundo. Exportamos petróleo e importamos gasolina;
E nosso maior fornecedor de gasolina é uma empresa ESTATAL - justamente o que o Jânio queria.
Leinad escreveu:
Outro reflexo é a que a ditadura deu uma “bandeira”, um inimigo comum à esquerda brasileira, dos anos sessenta até os dias atuais. Passa-se a imagem que SOMENTE a esquerda combateu a ditadura. Que a nossa esquerda é “heroica e valente”, aumentando cada vez mais o seu número de simpatizantes. Ou seja, propagando falsamente o combate ao Comunismo, os militares acabaram por criar uma esquerda no Brasil.
Concordo com cada vírgula.
Leinad escreveu:
Enfim, acredito que as politicas de Jango seriam MUITO, muito mais benéficas ao país do que os 21 anos de ditadura militar.
É discutível.
Leinad escreveu:
Mas, isso é só o que eu acredito. Pode-se dizer que é uma face da verdade ou a mentira que eu escolhi acreditar. A discussão nos leva a “arranhar” a verdade, mas ninguém a detêm.
VTNC vc e seu discurso antitreta :morrediabo: :tudobem:
O que eu não quotei da sua resposta, ou concordo, ou não tenho embasamento para discutir.
Realmente a esquerda em 1964 era tão fraca, e o país tão longe de um golpe comunista, que nesse vídeo vemos a fraqueza da esquerda num discurso onde o PRESIDENTE DA REPÚBLICA da época afirma que vai tomar a propriedade privada e distribuir ao "povo".
VRebuli,
Dessa vez terei que discordar veementemente.
Jango não era comunista/socialista. Jango era de outra vertente política, era nacionalista, e não opositor ao capitalismo.
Ocorre que Jango queria estatizar indústrias e promover a reforma agrária. Eu, pessoalmente, acredito que eram passos importantes para o país naquela época.
Acredito que essas políticas desagradavam aos interesses das elites estrangeiras e brasileiras. Estatizar petrolíferas, em particular, desagradou os EUA. O envolvimento dos EUA com as ditaduras na America do Sul de forma geral já é de conhecimento público.
Por tudo isso, acho muito, muito injusto colocar Jango no mesmo patamar de Maduro, Chaves ou Fidel.
Depois de 21 anos no poder, os militares deixaram uma terrível herança:
Não houve reforma agrária (devemos lembrar como se deu a propriedade privada de terras em larga escala na formação do nosso país – nascemos como colônia de exploração. Não houve “trabalho duro para aquisição de terras”);
Hoje, temos uma das gasolinas mais caras do mundo. Exportamos petróleo e importamos gasolina;
Surgiu o crime organizado no sistema prisional que misturava criminosos políticos com criminosos comuns;
Outro reflexo é a que a ditadura deu uma “bandeira”, um inimigo comum à esquerda brasileira, dos anos sessenta até os dias atuais. Passa-se a imagem que SOMENTE a esquerda combateu a ditadura. Que a nossa esquerda é “heroica e valente”, aumentando cada vez mais o seu número de simpatizantes. Ou seja, propagando falsamente o combate ao Comunismo, os militares acabaram por criar uma esquerda no Brasil.
Enfim, acredito que as politicas de Jango seriam MUITO, muito mais benéficas ao país do que os 21 anos de ditadura militar.
Mas, isso é só o que eu acredito. Pode-se dizer que é uma face da verdade ou a mentira que eu escolhi acreditar. A discussão nos leva a “arranhar” a verdade, mas ninguém a detêm.
Leinad,
O discurso de Jango é o que há de mais claro e clássico no socialismo: A tomada da propriedade privada pelo estado e a distribuição entre o povo. Se na mente dele ele se imaginava outra coisa que não tivesse a ver com o socialismo, ele não conseguiu transmitir suas idéias através de suas palavras.
Talvez até algumas dessas estatizações pudesse gerar algum benefício, e concordo que não interessava isso ao alto escalão capitalista isso, porém no que você argumenta em relação aos EUA fica implícito, pelo menos para mim, um modo de pensar típico do discurso dominante brasileiro.
Explico: No Brasil acredita-se que nada pode ser explicado fora dos fatos que estão amplamente visíveis, e que todos tem acesso. Ou seja, qualquer hipótese que tenha o menor complô é ridicularizada como teoria da conspiração. Todo mundo é presunçoso ao ponto de acreditar que nenhuma das muitas agencias secretas que existem em vários países faça as coisas no background. O que é, obviamente, uma burrice.
Mas existe a exceção a regra, e essa sim pode conspirar, e de fato sempre conspira, e é a responsável final por todos os males da humanidade: os EUA. Os EUA sempre estão por trás de todo o mal, ainda que claramente que venha um grupo terrorista e declare que ele realizou tal ato, as teorias que foram os EUA por trás sempre aparecem e essas nunca são ridicularizadas. Assim é o estado da falácia nas discussões do Brasil.
Essa explicação toda é para dizer o seguinte: assim como os EUA não tinham interesse no futuro do Brasil, a Rússia e Cuba tinham também. Pensar que não, que apenas os EUA tentam influenciar as outras nações, é de uma ingenuidade (e no caso de alguns - não o seu - estupidez) tão grande, que é difícil de se acreditar que um ser humano com mais de 12 anos no pleno gozo de suas faculdades mentais ousaria pensar assim.
Assim como teve o dedo dos EUA, existiam muitos dedos comunistas por trás de Jango. Se você fizer uma pesquisa melhorzinha verá o que estou falando. Eu li alguns artigos, não tive tempo de ir mais a fundo.
Eu sou totalmente contra qualquer ditadura, sou uma espécie de liberal-conservador, quero 2 coisas do estado: segurança e liberdade, e não peço a terceira com medo de perder as 2 primeiras. Mas se o golpe não tivesse acontecido, talvez aconteceria o golpe do outro lado, que provavelmente seria muito pior, visto o exemplo histórico de TODOS os outros regimes comunistas no mundo. Portanto, o legado da ditadura militar é ruim, o do comunismo é ainda pior.
Lógico, que os esquerdistas aproveitam todos os erros da ditadura para se elevarem e posarem de salvadores da pátria, defensores da liberdade, etc. Mas suas ações se examinadas corretamente mostram que na verdade, o que eles querem, nada mais é que uma ditadura, porém a ditadura deles.
Que a esquerda se fortaleceu intelectualmente e na sociedade durante a ditadura isso é mais do que claro e evidente, você tem toda a razão nesse ponto, e não há uma pessoa, por mais de direita que seja, que discorde disso. Enquanto isso a direita desapareceu intelectualmente. Talvez esse seja o maior fracasso da ditadura.
Última edição por VRebuli em Sex 04 Abr 2014, 07:50, editado 2 vez(es)
João Goulart não era nem nunca foi socialista. Se encaixa muito mais na classificação de nacional-desenvolvimentista, com algumas matizes trabalhistas- afinal ele era herdeiro de Getúlio Vargas. Jango estava muito mais para CEPAL do que para PCB. Os Planos de Reforma de Base do João Goulart não eram socialistas mas de fato seriam uma reforma profunda, e extremamente desejável se fosse realmente nos moldes do plano. Todo o lance do "Jango comunista" é uma jogada de desinformação das elites tradicionais aliadas ao alto comando das forças armadas (se não me engano, apenas QUATRO generais foram contra o golpe, todos sumariamente retirados do cargo). Usaram argumentos furados como "ele estava na China porque é comunista e estava tramando algum plano comunista", quando o cara havia havia ido para lá em missão oficial...
Para quem tem interesse no tema, eu indico o livro "O Brasil de João Goulart: Um projeto de nação", org. MUNTEAL, Oswaldo; VENTAPANE, Jacqueline; FREIXO, Adriano de, editado pela PUC Rio. No livro tem reprodução na íntegra de um texto de João Goulart publicado no jornal do Brasil, e outro onde ele fala especificamente da reforma agrária.
Outro texto que pode interessar, já que toca em muitos dos pontos falados aqui é:
(originalmente em Revista Brasileira de História vol.24 no.47 São Paulo 2004)
trecho interessante (o que está sublinhado, foi sublinhado por mim):
o afirmarmos que o golpe de 1964 teve como protagonistas principais as facções duras das forças armadas e o empresariado nacional (através de seus partidos, entidades de classe e aparelhos ideológicos)16 – com o decidido apoio e o incentivo da embaixada e de agências norte-americanas (Departamento de Estado, Pentágono e outras)17 –, não significa que devemos isentar os setores nacionalistas e de esquerda pelo dramático desfecho do processo político.
Comportamentos, gestos e declarações – altissonantes e, a rigor, autênticas bravatas – de lideranças progressistas contribuíram para o agravamento do processo político. Neste sentido, será a partir do comício pelas reformas no dia 13 de março, sexta-feira, que a crise política se agudizará. Assim, paralelamente às versões alarmistas, forjadas pelos setores conservadores, alguns gestos e declarações de lideranças importantes do movimento nacionalista – pelo radicalismo verbal de que se revestiram – tiveram o efeito inesperado de unificar a direita civil e militar.
(...)
o panfletário discurso do Presidente numa assembléia de marinheiros, no Automóvel Clube do Brasil, na noite de 30 de março.
Transmitido pela televisão, diante de um auditório repleto de soldados, sindicalistas e políticos nacionalistas, Goulart denunciou as forças reacionárias e golpistas. Com veemência defendeu – para a redenção do país – a necessidade de um "golpe das reformas". As palavras eloqüentes e os gestos dramáticos do presidente da República muito se assemelhavam à carta-testamento de Vargas. Sem atirar contra o próprio peito, Goulart parecia decidir pelo suicídio político.
Mas, diante de insinuações de que os setores progressistas e de esquerda – pela intransigência de suas demandas e ações – também devem ser responsabilizados pelo desfecho dos acontecimentos de abril de 1964, é preciso sempre lembrar e ressaltar que quem planejou e desencadeou o golpe contra a democracia foram as classes dominantes através de suas forças políticas e entidades de classe.19 Como ressaltamos, os setores conservadores e liberais da sociedade civil – as chamadas "vivandeiras de quartel" –, durante todo o período republicano se manifestaram resolutamente contrários à ampliação das liberdades políticas e dos direitos sociais das classes populares e dos trabalhadores. Desde 1950, manobras golpistas foram tentadas, intensificando-se a partir da renúncia de Jânio Quadros.
Última edição por Grau Hut em Sex 04 Abr 2014, 01:53, editado 1 vez(es)
Sobre as Reformas de Base, vou deixar um link para um texto do CPDOC, orgão que não é de esquerda, até porque é ligado a FGV (Fundação Getúlio Vargas,que também não se orienta por diretrizes socialistas nem comunistas, e nenhuma outra de esquerda, como a social-democrata):
Tem muito mais coisa... li um tempinho atrás em algum lugar um artigo do Correio Brasiliense falando sobre como os discursos aceleraram o golpe e foram usados de forma alarmista, mas estou bastante cansado e preciso acordar muito cedo amanhã. Se eu lembrar, depois eu volto ao tema aqui.
