Grau Hut escreveu:Para começo de conversa, o que esse professor estava fazendo não era uma crítica séria ou acadêmica. Ele estava agindo da mesma forma que os conservadores e direitistas tanto bradam contra a esquerda, isto é, como indivíduo que se coloca como intelectual e cujo discurso é puramente ideológico, doutrinário, que distorce tudo para legitimar seu ponto de vista e sua opção política- nesse caso específico o que o referido professor estava fazendo era proselitismo pró-ditadura, simplesmente propagandeando as justificativas e legitimações infundadas que os golpistas militares deram como uma verdade inquestionável- sendo que o que ele está falando da esquerda se apoderar do Brasil é historicamente insustentável.
Algo que já falei e incomoda muita gente de esquerda é que a esquerda brasileira, ainda mas após Vargas, era desarticulada, pouco organizada e pouco influente.
A maioria dos trabalhadores urbanos era VARGUISTA (o que passa MUITO longe de ser socialista), se aproximando muito mais do trabalhismo (um vertente de centro), ou mesmo de um trabalhismo com teor nacionalista (mais centro-direita), do que de vertentes socialistas, comunistas e muito menos anarquistas. Parcialmente isso se deve ao controle rígido que Vargas impôs aos sindicatos, transformando-os em sustentáculos de seu governo.
A maioria dos trabalhadores rurais era pouco ou nada engajada. Existiam as Ligas Camponesas, fundadas por iniciativa do PCB, mas a repressão contra elas já era visível antes mesmo da cassação do PCB em 1947, e apesar de seus esforços e do valor histórico de suas lutas, as ligas Camponesas tiveram um alcance bastante reduzido,agindo muito mais em âmbito local, sem nenhuma capacidade para algo em grande escala, em escala nacional.
A esquerda brasileira era basicamente formada por elementos oriundos da intelectualidade, quadros estudantis, uma parcela (minoritária) de jornalistas e artistas. Gente sem nenhum treino militar ou de combate ou manejo com armas. Fora isso, divididos entre si em dezenas de variantes, existindo pouca coesão. Mesmo quando havia alguma agremiação que procurava agregar os grupos, como a ANL (Aliança Nacional Libertadora) da época varguista, não era algo 100% de esquerda, havendo membros da ANL que se colocavam como liberais que se opunham ao governo centralizador e autoritário de Vargas.
Na época da ditadura,a esquerda brasileira estava ainda menos coesa que na Era Vargas. Se na Era Vargas a única tentativa de tomada do poder e retirar Vargas da presidência, a Intentona comunista, foi facilmente debelada devido a sua limitada força e influência, na década de 60 sequer uma Intentona comunista teria como ser feita.
Tendo isso em vista, é claro deduzir que o discurso do citado professor é insustentável historicamente, não passando de retórica legitimadora do Golpe de 1o de abril de 1964. A própria fragilidade da esquerda brasileira na época ajuda a levar a essa conclusão. Paradoxalmente foi com o Golpe de 1964 que a esquerda veio a se tornar mais organizada, menos desunida (embora nunca realmente coesa... até hoje a desunião é uma marca da esquerda) e veio a desenvolver maiores capacidades militares e de combate, já que tudo isso se ligou a resistência e oposição ao governo ditatorial civil-militar.
Pelo jeito esse professor é do tipo que teria engolido sem mastigar que o Plano Cohen denunciado por Vargas era verdadeiro... basicamente tudo o que ele falou foi uma versão "made in 1964" do Plano Cohen
Realmente a esquerda em 1964 era tão fraca, e o país tão longe de um golpe comunista, que nesse vídeo vemos a fraqueza da esquerda num discurso onde o PRESIDENTE DA REPÚBLICA da época afirma que vai tomar a propriedade privada e distribuir ao "povo".