Baiano de sotaque forte e formado em ciências sociais pela Universidade Paris 1 Sorbonne, na França, Juca Ferreira tem 66 anos, foi perseguido durante a ditadura militar brasileira e tornou-se ministro da Cultura no fim do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Neste ano, ele assumiu novamente a pasta no lugar da polêmica Marta Suplicy, que saiu do cargo reclamando da decisão da atual presidente Dilma Rousseff de substituí-la.
Encontramos Juca Ferreira na Campus Party e batemos um papo rápido com ele. Perguntamos ao novo ministro de Dilma se o Brasil pretende reduzir de fato os impostos de games e se haverá investimento no setor. Ferreira também nos explicou um pouco sobre sua experiência na área. Ele estava acompanhado do produtor cultural Cláudio Prado, conhecido por apoiar a iniciativa polêmica dos coletivos que formam o Fora do Eixo, liderados por Pablo Capilé, e que organizaram festivais como Grito Rock.
Confira nossa entrevista com o ministro Juca Ferreira.
Ministro, tudo bem? Gostaria de começar a entrevista com uma pergunta que foi feita à sua antecessora: Games são cultura? O ministério terá projetos para esta área?
Considero videogames sim como parte da cultura brasileira e acredito que teremos projetos focados nesta área. No entanto, eu ainda estou chegando na cadeira do ministério e preciso colocar ordem na casa. Estou escolhendo meus assessores e tomando conhecimento da situação geral. Já sei hoje que precisarei reestruturar muita coisa. Games e toda essa dimensão de cultura digital vai voltar ao ministério com força total porque nós acreditamos no potencial dessas áreas.
Existe algum projeto concreto para ajudar os jogos digitais no Brasil? O MinC pode intervir na questão dos impostos?
Olha, aí ultrapassa o limite do ministério da Cultura. Quem define a tributação é a área econômica do governo e eles têm alergia a qualquer mudança para menos. Eles adoram mudanças para mais tarifas. Neste momento, redução de impostos dos games não pode ser prioridade para o Brasil em crise econômica. O que eu devo acenar para eles é mostrar que videogames são uma economia possível para o país. Estive na China quando era ministro de Lula e pedi permissão ao governo para negociar as parcerias na área de cultura digital, cinema, animação e games.
Fiquei impressionado com o plano estratégico chinês de crescimento em 10 anos. Eles atingiram todas as suas próprias metas com menos de cinco. Um dos objetivos era ser entre o terceiro e o quinto maior produtor de videogames do mundo. Os chineses também chegaram no mesmo patamar nas áreas de cinema e de animação. O investimento para isso não é tão alto quanto pensam. Isso tem que existir, evidentemente, porque nada na vida cresce de maneira espontânea. O que é mais necessário é agregar uma série de frentes para tornar esta área da cultura mais atraente.
Meu filho de quatro anos dedica uma parte do dia dele para assistir filmes de animações. Quando ele não vê isso, ele vai direto pro game. Sabendo disso, eu não posso ignorar o que já faz parte da vida das pessoas desde quando elas nascem. Hoje em dia tudo o que você faz tem interferência da internet ou de alguma manifestação da tecnologia digital. É preciso considerar isso porque todas as nossas relações pessoais estão sendo modificadas por este boom tecnológico que nós estamos vivendo sob vários suportes. Está mudando o dinheiro, o uso de remédios e tem gente fazendo cirurgia via internet. É uma coleção de infernos, céus e purgatórios sendo reprogramados. O Brasil não pode ficar de fora desta mudança, porque ele tem potencial para se tornar um grande produtor de games e de cinema de animação.
Eu só não quero ficar brincando de estimular o setor. Quero fazer coisas concretas pela área e que sejam possíveis. No passado, quando fui ministro, nós conseguimos os primeiros editais e quem pode falar melhor sobre isso é Cláudio Prado, que está aqui comigo hoje. Cheguei a visitar o melhor núcleo de games do Brasil e eu ainda achei amador o trabalho que o Ministério da Cultura estava fazendo para dar suporte a este mercado. Quero fazer intervenções agora dentro de metas claras. Se elas forem cumpridas, os brasileiros poderão ser ótimos produtores de jogos.
Conversei recentemente com a Abragames, que terá um representante na Comissão Nacional de Incentivo à Cultura e quer se aproximar do governo. Eles querem conseguir mais incentivos da Lei Rouanet para os videogames. Você criticou essa lei como é feita. Há outros caminhos?
Existem, claro! A ideia é justamente ampliar a Lei Rouanet para maior acesso de todos e não acabar com seus benefícios conquistados até aqui. Essa lei tem muito mais aparência de apoio do que ajuda de fato. Ela é muito concentrada no quesito regional e em quem consegue de fato os seus recursos.
A Lei Rouanet atua mais no eixo Sul-Sudeste do Brasil?
Na verdade, 80% dos incentivos dela vão para o eixo Rio-São Paulo. Deste montante, 60% ficam em apenas duas cidades e, nessas localizações, são sempre os mesmos que recebem. A grande maioria recebe certificado do ministério da Cultura, porque tem mérito e, no entanto, 80% dessas pessoas não conseguem nada além disso. Existe outro detalhe importante: A Lei Rouanet é 100% composta por dinheiro público, de impostos que seriam pagos para a população e são descontados. Ela só tem uma aparência de parceria público-privada. Se você olhar as grandes corporações brasileiras que apoiam eventos, elas utilizam esta lei para obter a verba, ao invés de pagar determinadas taxas.
Como assim ela tem aparência de parceria público-privada? Você acredita que isso deveria mudar?
Pensa assim: Por que intermediar entre as corporações e por que não financiar diretamente a cultura? Eu sou a favor de parceria público-privada, mas se existe o dinheiro e uma empresa precisando dele, eu peço apenas 20% do mínimo necessário. E se eu der dinheiro para o produtor cultural, a conversa também se encerra. Quero essa mudança no financiamento e tudo isso mete medo nas pessoas, o que é normal no Brasil. As pessoas aqui tem medo que as coisas se alterem. É comum as coisas por aqui mudarem pra pior, mas, neste caso da Lei Rouanet, nós passamos oito anos discutindo o caso, a ideia está madura e acho que o governo está preparado para fazer essa transformação.
http://www.brasilpost.com.br/pedro-zambarda/quero-mostrar-que-videoga_b_6894108.html
Encontramos Juca Ferreira na Campus Party e batemos um papo rápido com ele. Perguntamos ao novo ministro de Dilma se o Brasil pretende reduzir de fato os impostos de games e se haverá investimento no setor. Ferreira também nos explicou um pouco sobre sua experiência na área. Ele estava acompanhado do produtor cultural Cláudio Prado, conhecido por apoiar a iniciativa polêmica dos coletivos que formam o Fora do Eixo, liderados por Pablo Capilé, e que organizaram festivais como Grito Rock.
Confira nossa entrevista com o ministro Juca Ferreira.
Ministro, tudo bem? Gostaria de começar a entrevista com uma pergunta que foi feita à sua antecessora: Games são cultura? O ministério terá projetos para esta área?
Considero videogames sim como parte da cultura brasileira e acredito que teremos projetos focados nesta área. No entanto, eu ainda estou chegando na cadeira do ministério e preciso colocar ordem na casa. Estou escolhendo meus assessores e tomando conhecimento da situação geral. Já sei hoje que precisarei reestruturar muita coisa. Games e toda essa dimensão de cultura digital vai voltar ao ministério com força total porque nós acreditamos no potencial dessas áreas.
Existe algum projeto concreto para ajudar os jogos digitais no Brasil? O MinC pode intervir na questão dos impostos?
Olha, aí ultrapassa o limite do ministério da Cultura. Quem define a tributação é a área econômica do governo e eles têm alergia a qualquer mudança para menos. Eles adoram mudanças para mais tarifas. Neste momento, redução de impostos dos games não pode ser prioridade para o Brasil em crise econômica. O que eu devo acenar para eles é mostrar que videogames são uma economia possível para o país. Estive na China quando era ministro de Lula e pedi permissão ao governo para negociar as parcerias na área de cultura digital, cinema, animação e games.
Fiquei impressionado com o plano estratégico chinês de crescimento em 10 anos. Eles atingiram todas as suas próprias metas com menos de cinco. Um dos objetivos era ser entre o terceiro e o quinto maior produtor de videogames do mundo. Os chineses também chegaram no mesmo patamar nas áreas de cinema e de animação. O investimento para isso não é tão alto quanto pensam. Isso tem que existir, evidentemente, porque nada na vida cresce de maneira espontânea. O que é mais necessário é agregar uma série de frentes para tornar esta área da cultura mais atraente.
Meu filho de quatro anos dedica uma parte do dia dele para assistir filmes de animações. Quando ele não vê isso, ele vai direto pro game. Sabendo disso, eu não posso ignorar o que já faz parte da vida das pessoas desde quando elas nascem. Hoje em dia tudo o que você faz tem interferência da internet ou de alguma manifestação da tecnologia digital. É preciso considerar isso porque todas as nossas relações pessoais estão sendo modificadas por este boom tecnológico que nós estamos vivendo sob vários suportes. Está mudando o dinheiro, o uso de remédios e tem gente fazendo cirurgia via internet. É uma coleção de infernos, céus e purgatórios sendo reprogramados. O Brasil não pode ficar de fora desta mudança, porque ele tem potencial para se tornar um grande produtor de games e de cinema de animação.
Eu só não quero ficar brincando de estimular o setor. Quero fazer coisas concretas pela área e que sejam possíveis. No passado, quando fui ministro, nós conseguimos os primeiros editais e quem pode falar melhor sobre isso é Cláudio Prado, que está aqui comigo hoje. Cheguei a visitar o melhor núcleo de games do Brasil e eu ainda achei amador o trabalho que o Ministério da Cultura estava fazendo para dar suporte a este mercado. Quero fazer intervenções agora dentro de metas claras. Se elas forem cumpridas, os brasileiros poderão ser ótimos produtores de jogos.
Conversei recentemente com a Abragames, que terá um representante na Comissão Nacional de Incentivo à Cultura e quer se aproximar do governo. Eles querem conseguir mais incentivos da Lei Rouanet para os videogames. Você criticou essa lei como é feita. Há outros caminhos?
Existem, claro! A ideia é justamente ampliar a Lei Rouanet para maior acesso de todos e não acabar com seus benefícios conquistados até aqui. Essa lei tem muito mais aparência de apoio do que ajuda de fato. Ela é muito concentrada no quesito regional e em quem consegue de fato os seus recursos.
A Lei Rouanet atua mais no eixo Sul-Sudeste do Brasil?
Na verdade, 80% dos incentivos dela vão para o eixo Rio-São Paulo. Deste montante, 60% ficam em apenas duas cidades e, nessas localizações, são sempre os mesmos que recebem. A grande maioria recebe certificado do ministério da Cultura, porque tem mérito e, no entanto, 80% dessas pessoas não conseguem nada além disso. Existe outro detalhe importante: A Lei Rouanet é 100% composta por dinheiro público, de impostos que seriam pagos para a população e são descontados. Ela só tem uma aparência de parceria público-privada. Se você olhar as grandes corporações brasileiras que apoiam eventos, elas utilizam esta lei para obter a verba, ao invés de pagar determinadas taxas.
Como assim ela tem aparência de parceria público-privada? Você acredita que isso deveria mudar?
Pensa assim: Por que intermediar entre as corporações e por que não financiar diretamente a cultura? Eu sou a favor de parceria público-privada, mas se existe o dinheiro e uma empresa precisando dele, eu peço apenas 20% do mínimo necessário. E se eu der dinheiro para o produtor cultural, a conversa também se encerra. Quero essa mudança no financiamento e tudo isso mete medo nas pessoas, o que é normal no Brasil. As pessoas aqui tem medo que as coisas se alterem. É comum as coisas por aqui mudarem pra pior, mas, neste caso da Lei Rouanet, nós passamos oito anos discutindo o caso, a ideia está madura e acho que o governo está preparado para fazer essa transformação.
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