* A "Era de Ouro" ( ou da "Cortina de Açúcar") Cubana:Nas décadas seguintes a tomada do poder (em especial 60 e 70) de fato houve uma série de melhorias em Cuba. Em termos econômicos a associação de Cuba com a URSS foi muito rentosa e positiva para Cuba. a URSS comprava praticamente todas as taxas de açúcar cubano e com preço acima do mercado (ou seja, a URSS pagava mais pelo açúcar cubano do que o preço da arroba/ tonelada do açúcar no pregão econômico capitalista (Cuba passou a fazer parte do COMECOM (aliança comercial da URSS e países socialistas) e passo um ter acesso a itens de consumo como geleias húngaras de alta qualidade. Fora isso a URSS dava anualmente a Cuba milhões de dólares em ajuda financeira (uma espécia de "mesada").
É nessa época que Cuba consegue melhorias consideráveis em diversos aspectos sociais, inclusive com alguns índices rivalizando com países europeus "top de primeiro mundo"; mortalidade infantil caí a níveis ínfimos, analfabetismo praticamente zero, percentual da população com acesso e diploma de nível superior. As políticas sociais conseguem resolver alguns problemas que antes pareciam endêmicos (como a população enorme de crianças de rua).
a medicina cubana começa a ficar famosa também. Não sou médico, e meus conhecimentos nesse âmbito são limitados, porém o grande trunfo da medicina cubana não tem nada demais; o foco na MEDICINA PREVENTIVA. Partindo do ponto que é mais vantajoso (e barato) prevenir do que cuidar e curar uma doença, Cuba tem um até hoje um programa de medicina preventiva que é modelo mundial (o Brasil já teve várias missões de médicos brasileiros que foram a cuba estudar o modelo de medicina preventiva). mesmo nas regiões geralmente colocadas como miseráveis fora da capital Havana se recebe visitas regulares de médicos nas casas das pessoas e programas de vacinação e correlatos (o brasil inclusive usa vacinas cubanas. eu mesmo cheguei a tomar vacina cubana no início dos anos 90, se não me engano vacina anti-meningocóccica BC). A medicina cubana é referência no tratamento de vitiligo e atualmente continua desenvolvendo pesquisa (mesmo que em ritmo bem menor e mais lento), atualmente sendo notícia o desenvolvimento de uma vacina contra câncer no pulmão ( conferir em http://info.abril.com.br/noticias/ciencia/cuba-desenvolve-nova-vacina-contra-o-cancer-de-pulmao-02012013-19.shl ).
A medicina cubana é a perfeição que o discurso de esquerda fala? Não. Li um artigo no site Centro de Mídia Independente- CMI Brasil que trata do tema e onde a medicina cubana é vista com um olhar crítico, que não a mistifica, mas não não a detrata como fiasco ( conferir em http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2004/03/276429.shtml ). Não é contudo um serviço em geral ruim. Em termos de atendimento público, é de fato muito superior ao dos EUA, de todos os países capitalistas aos eu redor (México, Nicaraguá, Guatemala, Bahamas, Barbados, República Dominicana, etc) e, na minha opinião, ao Brasil.
A associação com a URSS não foi só benéfica. O turismo cubano (importante fonte de renda da ilha) caiu muito e passou a ser centrado em visitantes soviéticos, chineses, alemães da Alemanha Oriental, demais países do leste europeu e mesmo um ou outro norte- coreano (como testemunhado pelo jornalista brasileiro Fernando Morais- o mesmo escritor de "Olga"- em seu seu livro- reportagem "A Ilha" de 1976).
Logicamente esse tipo de turista não trazia lucros ou dinheiro a altura dos antigos turistas norte- americanos & correlatos...
Por outro lado é testemunhado por muitos visitantes que os hotéis de luxo e pousadas (todos estatizados coma revolução) também recebiam operários e demais trabalhadores em férias, como parte de seus benefícios de trabalhador. Uma pessoa que conheço falou que tal coisa até hoje ainda acontece. Isso é citado no livro "A Ilha" e se não me engano no livro "Cuba de Fidel- Viagem a Ilha Proibida" do escritor brasileiro Ignácio Loyola Brandão (autor do livro "Zero' e cronista famoso).
o sucesso social cubano também tem suas mistificações. Uma delas: Cuba não possuía mais prostitutas. Tal posição é defendida por Fernando morais em "A Ilha", mas cai por terra quando Ignácio Loyola Brandão narra que ele, Chico Buarque e Marieta Severo testemunharam prostitutas em Havana. quando perguntaram a cubanos sobre isso, as respostas variavam de que elas eram devassas ou simplesmente queriam mais itens e bens de consumo de que tinham direito pelas cadernetas.
Fora isso, em termos políticos e econômicos, Cuba se tornou muito dependente da URSS, um verdadeiro satélite soviético. a URSS usava Cuba como "vitrine" para fazer propaganda do modelo socialista nas Américas, mas Cuba nunca desenvolveu de fato uma economia industrial que fornecesse bens de consumo, sendo muito dependente das importações de eletrodomésticos soviéticos, tratores soviéticos, etc. Isso fica bem visto em uma entrevista que Fernando Morais publicou no final de seu livro "A Ilha".
Em termos sociais e de direitos civis, tem o lado bom e o ruim. Muita coisa do lado bom já foi falado acima (acesso a educação e saúde gratuitas, reforma agrária bem feita, e somando-se a isso existe seguridade em termos de emprego, habitação razoavelmente barata e transporte público bem acessível em termos de preço, etc).
O lado ruim é que de fato não se tem uma liberdade de expressão e de imprensa consolidadas em Cuba, e o mesmo pode-se dizer que existem limitações nos direitos de manifestação política e de liberdades políticas e civis. Inclusive o direito de ir e vir é limitado, com controle governamental para saída e viagens ao exterior de seus próprios cidadãos.
Para ter uma visão de Cuba nessa época:
*" A Ilha", de Fernando Morais, de 1976: esse livro é a personificação da imagem "Cuba Utopia Realizada" da esquerda e dos socialistas. Vale a pena ler para ter uma ideia do ponto de vista ideológico "totalmente pró Cuba". Nas entrelinhas, o autor sem perceber deixa a mostra algumas fraquezas do regime cubano (como a dependência dos produtos industrializados soviéticos).
* "Cuba de Fidel- Viagem a Ilha Proibida", de 1978: livro de Ignácio Loyola Brandão. O viés em geral é positivo, mas mais pé-no-chão e crítico que do de Fernando Morais. Loyola Brandão questiona algumas coisas, como por exemplo a imprensa cubana e também aponta furos em algumas mistificações (como a ausência de prostitutas em Cuba).
* Documentário "A Cortina de Açúcar" de Camila Guzmán ("El Telón de azúcar", de 2007). O filme mostra as mudanças em Cuba após as crises financeiras pós- queda da URSS e demais problemas que Cuba vem enfrentando, partindo da comparação que a diretora Camila Guzmán faz da "Cuba de hoje" com a "Cuba de ontem' onde ela cresceu e estudou. Sobre esse filme tem muitos artigos de jornalistas brasileiros na internet é só jogar no google (deixo aqui dois deles que li na época: http://blogs.estadao.com.br/luiz-carlos-merten/2007/03/page/3/ procurar pelo texto "Cortina de Açúcar" e http://www.contracampo.com.br/89/festcortinadeacucar.htm )
* existe uma série de uns 4 DVDs chamado "memórias Cubanas" de reportagens e entrevistas do jornalista italiano Gianni Miná sobre a ilha e na pró pria ilha (inclusive entrevista com Fidel). Gianni Miná é simpático ao regime cubano, mas não é cego e faz apontamentos mais críticos e perguntas mais questionadoras. Sobre esses DVDs: http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,pacote-traz-balanco-da-revolucao-cubana,312560,0.htm
Infelizmente só possuo dois deles... "Um Dia com Fidel" e "Cuba, 30 Anos".
Tem mais livros e artigos, mas são mais acadêmicos e em geral de leitura mais chata para quem não tem tanto interesse no tema nem é da área de Humanas. Esses são mais palatáveis.
(mais um post imenso... depois continuo...)
Re: Blogueira cubana é recebida com protesto no RecifeSeg 18 Fev 2013, 20:05
