...comentários e declarações que já ouvi em faculdades, feitos por universitários, ou no trabalho; da reação geral que vi casos como a tomada da USP pelos alunos serem tratados pela grande mídia e a forma como isso foi não só aceito como reproduzido pela maioria das pessoas.
Outro motivo é algo que desde adolescente eu sempre senti... eu, meio por brincadeira, meio sério, apelidei de "síndrome do
Desdichado" (desdichado em espanhol é algo como "deserdado").
Os conservadores (pessoas pró-militarismo; pró-neoliberalismo, elite subalterna que faz uma faculdade como química, consegue um emprego numa multinacional e passa a achar que o mundo é justo como é; cristãos conservadores, sejam católicos ou evangélicos; monarquistas; classe média apolítica, consumista e seguidora de modinha) sempre me consideram "radical" ou "alternativo" ou "diferente e esquisito", por eu quase sempre ter tido cabelo mais comprido; usar barba; criticar o consumismo, a sociedade de espetáculo, o uso de bens de consumo de luxo para ostentação, uso de roupas e de determinados acessórios por "estar na moda"; defender coisas como reforma agrária, agricultura familiar e habitação popular (não sou socialista, mas me considero de esquerda), ouvir tipos de música não-midiáticos (heavy metal, classic rock, rockabilly, ópera, música clássica, jazz, blues, bossa nova, música medieval), gostard e fazer trilhas e esportes de aventura (como rapel), etc.
Já a galera mais "alternativa" (indies, hipsters, pós-moderninhos, pseudo-alternativos, pseudo-hippies, comunistas-de-corredor-de-faculdade mais exaltados ou mais fanáticos) sempre me considerou conservador, certinho, quadrado, tradicional ou até mesmo moralista, porque não tenho nem gosto de tatuagem; não uso nem gosto de piercings e brincos; não fumo maconha nem nenhum outro tipo de entorpecente, além de não apoiar a legalização e liberalização da maconha; por ser hetero e não ter interesse nenhum em ser "curious" (como definia o status do orkut
) e ter um posicionamento mais crítico em relação ao bissexualismo (cujo enfoque atual é uma modinha oriunda do pós-modernismo e do hedonismo vulgar que é uma de suas características); por ser monogâmico, não querer topar algo como um "relacionamento aberto" e defender que muitas vezes as relações entre homem/mulher estão sendo banalizados e esvaziadas na pós-modernidade (sempre cito o livro "Amor Líquido- Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos" de Zygmunt Bauman); por defender que funk não é cultura popular e sim cultura de massa (entre os "alternativos antenadinhos" e pós- moderninhos hoje é onda gostar de funk e dizer que é bom para dançar e que é cultura popular.... Infelizmente algumas vertentes de esquerda estão fazendo o mesmo).
Acabei me sentindo sempre no vazio, não enquadrado, um 'desdichado' não pertencendo a nenhum dos dois grupos e visto por membros desses grupos como não-pertencente a eles. De uns anos para cá, com o crescimento do neoconservadorismo, isso vem se exacerbando.