O sonista tecnólogo
Uma espécie variante/prima do Pczista supra-sumo, o sonista tecnólogo é antes de qualquer coisa um deslumbrado. E é fácil saber o porquê disso. Depois de apanharem defendendo os consoles mais tecnicamente defasados das últimas duas gerações (papel que agora cabe aos nintendistas), assim que a Sony anunciou seu projeto megalomaníaco do Playstation 3, como por encanto os sonistas viraram da noite para o dia verdadeiros doutores em tecnologia e ciências da computação. Tal quais seus primos adeptos do monitor e torre, os sonistas passaram a repetir feitos papagaios toda sorte de termos técnicos que eles não têm a menor idéia do que signifiquem na prática. Curioso que da mesma forma que um fanático religioso pode ter uma intensa adoração por um monumento ou adereço sagrado, os sonistas tecnólogos passaram a exercer mesma adoração em relação ao processador Cell, embora nenhum deles jamais tenha ouvido falar desse chip em suas vidas antes do PS3. Ainda que boa parte deles jogue videogame nas velhas tevês de tubo, adquiriram a mesma obsessão dos pczistas por contagem de quadros por segundo, porcentagem de anti aliasing, bump mapping entre outros efeitos que até antes de 2006 não passavam de “frescura” ou “perfumaria”.
O que os difere, porém, dos outros istas é o comportamento desse grupo que se assemelha ao dos chamados “novos ricos”, ou seja, daquele tipo de pessoa que saiu da pobreza, enriqueceu rapidamente, mas devido à falta de educação, conhecimento e modos continuam se comportando como se ainda fosse pobre. No caso dos sonistas, até outrora se orgulhavam de suas vastas coleções de jogos piratas, do conhecimento de todos os esquemas dos chips de destrave (já vi alguns até mesmo colocarem a marca e o modelo em suas assinaturas, algo do tipo “powered by Matrix Infinty v.3.55″), e até mesmo de competirem pela taça “quem comprou seu PS2 pelo esquema mais mutreta possível”. Riam de qualquer pessoa que comprou jogos originais, chamando-a de “otário” e “playboy”. Mas com a chegada do Playstation 3, tudo mudou.
Agora os mesmos figuras acham lindo pagar preço de original (se foi caro melhor ainda) por um demo como Gran Turismo 5 Prologue. Adoram exibir fotos de sua “nova comprinha” embora provavelmente tiveram que vender até os rins a máfia para conseguir adquirir o console. DVD? Instantaneamente virou peça de museu, agora só Blu-Ray e o resto é resto, embora nunca tenham assistido a um só filme nos disquinhos azuis. Tudo isso se encaixa perfeitamente naquela frase que dizia “comeu mortadela e arrotou peru”, e em um surto de amnésia total, aqueles mesmos que jogaram com gosto e nem ligavam que Resident Evil 4 do PS2 era tecnicamente bastante inferior ao do GameCube e achavam o máximo que God of War era “quase um Xbox”, agora tem altos faniquitos se algum caixista ousar dizer que o PS3 tem 1% a menos de performance que o X360 em qualquer jogo que seja.
Esses momentos são especialmente engraçados. Eles se juntam em bandos e são capazes de ficarem tópicos inteiros tentando mostrar uma diferença que é praticamente imperceptível para o resto da humanidade. No desespero de tentar provar o impossível, recorrem às explicações mais esotéricas e as “comprovações” mais obscuras possíveis, na linha de “Fulano de tal do fórum Xing Ling Ho Go Sung de Taiwan, através de exaustivos testes técnicos provou que o (insira no nome do jogo aqui) roda a 0,2fps a mais com 1080p e 4xAA do que o Xbox 360 nos solstícios de inverno.” Ao mesmo tempo em que dispõem de verdadeiros tratados técnicos amplamente documentados de que o PS3 é a máquina mais poderosa do planeta até para fazer uma lingüiça na chapa, simplesmente desaparecem sem deixar vestígios quando questionados sobre os vexames do aparelho, como o fracasso do Sixaxis, e aqueles tempos de carregamentos lerdos e as instalações obrigatórias em jogos que o X360 roda igualzinho sem nada disso.
Pois é, são tecnólogos só até onde interessa. Mas os istas são assim mesmo, metade especialistas, metade surdos e mudos e totalmente engraçados.