Thais Weiller e Danilo Dias, a dupla que forma dois terços do estúdio independente Joymasher, responsável por Oniken, estão bem longe de casa. Há cerca de um mês eles decidiram sair de Maringá, no Paraná, para se estabelecer em Manaus, capital do Amazonas, onde devem permanecer por um bom tempo. Conversei com os dois para saber a razão dessa mudança de ares repentina e também como fica os projetos da Joymasher agora que estão mais próximos do coração da floresta amazônica.
Thais fala que a mudança tem tudo a ver com games. No final do ano passado, a Samsung anunciou a criação de um estúdio voltado para desenvolvimento de jogos em Manaus. É nesse estúdio que ela que tem formação em game design, está trabalhando. “A Samsung me convidou para trabalhar aqui em Manaus, o projeto parece legal e eu falei ‘ok, vamo aí’”, conta.
O casal só lamenta a distância de locais como São Paulo, o que vai acabar privando-os de participarem de eventos relacionados ao desenvolvimento de jogos. Eles citam, por exemplo, o Spin, que vai começar a ser realizado na capital paulista. “Quando a gente estava em Maringá e tinha o Spin, a cada três ou quatro meses a gente dava um jeito de pegar um ônibus e ir, mas estando aqui não dá mais”, fala Thais. Apesar de não estarem fisicamente nesses eventos, eles falam que vão continuar participando de Game Jams, mas pela internet.
Por estarem no Amazonas, fica difícil não perguntar se o ambiente na floresta não pode influenciar em futuros jogos da Joymasher, o que é confirmado pelo casal. “Eu estava comentando com a Thais antes de mudar pra cá, que eu estava pensando em desenvolver um jogo bem louco meio Metal Gear Rising no Amazonas, com um personagem fodão na selva e tal”, fala um empolgado Danilo Dias. “Pra mim, as referências sempre aparecem, só que eu gosto de fazer de uma forma sutil. Eu não vou botar o rio Negro e Solimões, misturar tudo e fazer um jogo sobre isso, mas alguma coisa sempre fica”, fala Thais, um pouco mais comedida.
Por onde anda Odallus?
A mudança para Manaus e o lançamento de Oniken no Steam fez com que a Joymasher desse uma pequena pausa no desenvolvimento de seu próximo game, o Odallus. O jogo está previsto para sair no meio desse ano e Danilo fala como está sendo o desenvolvimento dele: “Por enquanto eu estou desenvolvendo o Odallus praticamente sozinho, por que o nosso programador ficou só focado em resolver os problemas da versão de Steam do Oniken, e a Thais estava ocupada com outros trabalhos, então até agora sou eu que estou fazendo a programação, a arte e o game design”, fala. “O Marcus (Galvão, programador da Joymasher) só ajuda quando o Danilo tem um problema maior na programação e eu ajudo quando ele tem algum problema de cor ou level design”, completa Thais.
Danilo também fala que a criação do Odallus não está sendo muito diferente de como foi com Oniken, mesmo que por circunstâncias diferentes, já que o processo está sendo bem mais produtivo. “Odallus é um jogo muito mais complexo do que Oniken, até por causa do level design não linear, mas está sendo bem mais fácil de desenvolver. No Odallus eu encontro problemas (no desenvolvimento), mas eu nunca travo mais do que três dias nele”, explica.
Engana-se quem pensa que a “facilidade” vem da bem sucedida campanha do jogo no site de crowndfunding IndieGoGo. Thais e Danilo dizem que a maioria dos mais de US$ 7.500 arrecadados para o projeto foram gastos em outros serviços relacionados ao jogo.
“O dinheiro serviu para pagar o músico que fez a trilha sonora, produção de trailers e outras coisas que a gente não consegue produzir e que precisa da ajuda de outras pessoas”, fala Danilo. Ainda assim, como a campanha conseguiu arrecadar mais do que os U$ 5 mil que a Joymasher pedia, eles falam que o dinheiro serviu também para o desenvolvimento, como a compra de licença de uma nova engine, melhor do que eles trabalharam em Oniken.
Parceria com a Sony
A Joymasher é um dos 19 estúdios brasileiros que fecharam uma parceria com a Sony para desenvolver jogos para a plataforma Playstation. O anúncio da parceria foi feito em outubro, durante a Brasil Game Show 2013, porém o casal fala que o projeto andou pouco desde então.
“O nosso plano é desenvolver algo para o PS Vita. Eles (Sony) vão nos dar um SDK (Software Development Kit, um kit de desenvolvimento), mas ainda não chegou por causa de problemas com a Anatel, porque o Vita tem Wi-Fi, então para chegar aqui a Anatel tem que aprovar. A ideia era que a gente conseguisse o SDK já na BGS, mas a Sony não pode trazer por causa disso”, informou Thais.
Como ainda não receberam o kit de desenvolvimento para saber como é desenvolver para o portátil da Sony, eles falam que não há como saber se farão um port de Oniken, Odallus ou até mesmo algo novo.
Eles explicam também como essa parceria vai acontecer: “A parceria com a Sony, no momento, é só pegar o SDK e desenvolver algo. Se sair um jogo, eles vão permitir que esteja na loja (PSN), mas eles não vão ser publishers”, diz Thais. No entanto, as possibilidades para o futuro são empolgantes. “O que eles falaram pra gente que seria possível era fazer um jogo em parceria com a Sony, que nem o Journey foi, mas pra isso teríamos que apresentar um projeto e tudo mais e, aí, eles bancariam o nosso jogo, que seria exclusivo por um ano”, explica Thais.
O problema é que, sem um kit de desenvolvimento para conhecer melhor as possibilidades que teriam, a Joymasher fica impossibilitada de criar um projeto e apresentar pra dona do Playstation.
Enfrentando o calor típico do norte do país e ainda se adaptando a uma cidade onde que não conheciam ninguém, o casal da Joymasher vai continuando a desenvolver seus jogos ridiculamente difíceis e instigantes. Mesmo distantes, Thais e Danilo parecem empolgados com o novo lar.
*Por Bruno Izidro, jornalista de games e tecnologia do Jornal Amazonas EM TEMPO e outras publicações, diretamente de Manaus
http://www.kotaku.com.br/procurando-um-norte-joymasher-conta-sobre-mudanca-para-manaus/