Nordestino atacado por neonazistas em Niterói era amigo de agressor
Homem afirma ter sido agredido por grupo neonazista
O nordestino de 33 anos agredido por um grupo neonazista, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, contou, nesta segunda-feira (29), que chegou a manter amizade com um de seus agressores.
Cirley Santos disse que conheceu Thiago Borges em um show e que, desde então, eles mantiveram contato. "Eu conheci o Thiago em um show de rock em São Gonçalo há uns oito anos atrás. A gente gostava das mesmas coisas, de metal [estilo de rock]. Saíamos pra tomar cerveja", disse.
No entanto, o comportamento de Thiago "azedou" a amizade, segundo o nordestino. "Ele ficava pregando orgulho nacional, integralismo e se juntou com uns amigos nacionalistas. Eu passei a ouvir música negra e não aguentava mais a 'ladainha' dele. Então, virei as costas para ele e nunca mais tive contato", disse.
Medo de represálias
Depois da agressão no sábado (27), Cirley diz que está com medo de sofrer novas agressões e teme virar alvo fácil nas mãos dos amigos de um dos integrantes do grupo, preso pouco depois das agressões. Ele acha que os amigos de Thiago Borges Pita vão querer vingá-lo e ele teme morrer.
Estou com medo de sair às ruas. Fui agredido (no sábado), do nada, quando estava olhando uma banca de jornais, na Praça Arariboia, em Niterói. Não percebi a aproximação deles, que gritaram ‘nordestino de merda’, me deram um soco e fizeram uma saudação nazista. Isso, às 10h, na frente de todo mundo, quando havia uma umas oito pessoas na banca. Se fosse à noite, eles poderiam ter me sequestrado, torturado e matado. Só não foram adiante porque as pessoas começaram a gritar, chamando atenção dos guardas municipais, que fecharam o carro deles para que eles não fugissem. Foi tudo muito rápido”, relembrou a vítima.
Ele conta que, por causa do alarme das pessoas, levou apenas um soco, que acabou quebrando os óculos escuros que usava, mas que não chegou a se ferir. A vítima conta que foi reconhecido por Thiago, que, como ele, é morador de São Gonçalo, também Região Metropolitana do Rio.
“Eles estão presos, mas nem por isso estou mais tranquilo. O grupo é grande, tem mais gente em São Gonçalo, em Niterói e no Rio. Deve ter mais uns 18 deles em São Gonçalo e agem há muito tempo. Há uns três anos uma menina foi agredida na Praça Zé Garoto. E em 2010, eles espancaram até a morte o adolescente de 14 anos (Alexandre Thomé Ivo Rajão). Alguns foram presos, mas outros continuam aí agredindo as pessoas”, afirmou o jovem nascido em Natal, no Rio Grande do Norte.
Para sua proteção, a vítima diz que vai mudar seus hábitos. Admirador de jazz, ska e outros tipos de música negra e frequentador de bares que tocam essas músicas na Lapa, no Centro do Rio, ele diz que vai buscar novos lugares para se divertir.
“Esses neonazistas são pessoas de classe média, que frequentam bons lugares. Agora, não vou andar mais sozinho e vou frequentar lugares mais populares, mais povão. Vou deixar de frequentar a Lapa, onde sempre tem alguns deles rondando e vou ficar de pé atrás. Não quero arriscar minha segurança, minha vida. Eles são perigosos e podem matar”, disse o agredido.
No sábado (27), segundo um guarda municipal, após impedirem que o rapaz continuasse a ser agredido, testemunhas acusaram o grupo neonazista detido de outras agressões em Niterói.
Crime de racismo e apologia ao nazismo
De acordo com a delegada adjunta da 77ª DP (Icaraí), Helen Sardenberg, que registrou o caso, os presos Thiago Borges Pita, 28 anos, Carlos Luiz Bastos Neto, de 33, Caio Souza Prado, 23, Davi Ribeiro Morais, 39, e Philipe Ferreira Ferro Lima, 21, vão responder pelos crimes de intolerância de cor, raça, etnia, religião e origem; fabricação, comercialização ou veiculação de símbolos, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou a gamada para fins de divulgação do nazismo; lesão corporal; formação de quadrilha; e corrupção de menores. Segundo a delegada, a junção de todos os crimes os torna inafiançáveis.
O crime ocorreu na Praça Araribóia, nas proximidades da estação das barcas, uma das regiões mais movimentadas do município fluminense. O grupo neonazista foi preso por guardas municipais, que foram chamados por pedestres quando viram o grupo indo em direção à vítima com facas e um taco de beisebol. Uma multidão se formou em volta dos jovens para impedir que a agressão continuasse. A delegada que registrou o caso, informou que os jovens vestiam camisas com inscrições de um grupo neonazista e tinham tatuagens com o símbolo da suástica.
"Só não espancaram a vítima por que era de dia. A população agiu rapidamente chamando a guarda municipal", disse a delegada.
FONTE: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/04/nordestino-atacado-por-neonazistas-em-niteroi-era-amigo-de-agressor.html